Pesquisa da Ufes expõe efeitos do uso de pesticidas na saúde de produtores do Espírito Santo
Publicado em 23/01/2025 às 08:36

Foto: Freepik
Uma pesquisa realizada pela Ufes observou que agricultores do Espírito Santo expostos a pesticidas manifestaram alterações na pressão arterial, doenças cardiovasculares e renais, abortos espontâneos e transtornos neurológicos. O resultado está no artigo Laying the groundwork: exploring pesticide exposure and genetic factors in south-eastern Brazilian farmers, publicado na revista Current Research in Toxicology, da Elsevier.
Orientada pelos professores Débora Meira e Iúri Louro, ambos do Núcleo de Genética Humana e Molecular, do Departamento de Ciências Biológicas e do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Ufes, a pesquisa teve a participação de estudantes da Ufes e da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (Emescam) e de pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), além da colaboração de Stephanie Seneff, cientista sênior do Laboratório de Ciência da Computação e Inteligência Artificial do Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos.
RESULTADOS – O estudo contou com um total de 304 participantes com mais de 18 anos de 22 municípios das microrregiões de Alegre, Cachoeiro de Itapemirim e Itapemirim, no sul do Espírito Santo. Na região, os agricultores utilizam diversos agrotóxicos, sendo o glifosato um dos mais comuns. Dos trabalhadores entrevistados, 72,01% eram homens e 27,99% mulheres.
“Verificamos que trabalhadores agrícolas expostos a pesticidas apresentaram aumento significativo em problemas de saúde quando comparados com o grupo de controle formado por pessoas que trabalham em fazendas orgânicas. Nossa investigação se concentrou no gene CYP2C9, com a hipótese inicial de que haveria uma associação direta com o desenvolvimento de câncer em agricultores. Contudo, os resultados revelaram outras importantes correlações”, afirma a professora Débora Meira.
Foto: Revista Current Research in Toxicology

A professora explica que o gene CYP2C9 é responsável por codificar a enzima hepática CYP2C9, que metaboliza diferentes compostos, incluindo pesticidas. Durante o estudo, foi observado que indivíduos com metabolismo normal apresentaram maior predisposição a condições como hipertensão, doenças cardiovasculares e problemas renais. Já aqueles com metabolismo intermediário mostraram uma relação significativa com transtorno de déficit de atenção e abortos espontâneos. Esses resultados indicam que os sintomas relatados pelos agricultores têm uma ligação direta com o genótipo CYP2C9.
Doenças neurológicas em evidência
Na literatura científica, o uso do glifosato tem sido associado a uma série de doenças, como obesidade, diabetes, doenças renais avançadas, Alzheimer e Parkinson. Essas conexões sugerem que o pesticida pode desempenhar um papel na emergência de doenças neurológicas, incluindo transtornos do neurodesenvolvimento, como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e o autismo.
“O estudo aponta que o glifosato interfere na função cerebral e nos sistemas neurotransmissores, o que pode estar contribuindo para essas condições. Essa é uma questão alarmante, considerando que as matrículas de alunos com transtorno do espectro autista (TEA) em escolas brasileiras cresceram 48% em apenas um ano, passando de 429 mil em 2022 para 636 mil em 2023”, destaca a professora.
Os pesquisadores ainda fazem um alerta importante no artigo: apesar dos esforços globais para conscientizar sobre os riscos dos agrotóxicos, o Brasil continua sendo o maior consumidor desses produtos no mundo. Esse cenário reflete níveis preocupantes de contaminação ambiental, com graves danos ao solo e à água.
Fonte: Ufes