Guerra na Síria: Quem assumirá o poder agora?
Publicado em 10/12/2024 às 17:13
Foto: Freepik
Após 13 anos de guerra civil que resultaram em mais de 500 mil mortes, a Síria enfrenta um momento de grande incerteza. No domingo (8), forças rebeldes lideradas pelo grupo HTS (Hayat Tahrir al-Sham), considerado terrorista pelos EUA, tomaram Damasco, reivindicando o controle do país. O ditador Bashar al-Assad, que governava desde 2000 e enfrentava uma insurgência desde 2011, fugiu para a Rússia, onde recebeu asilo humanitário.
Celebrações e dúvidas sobre o futuro
Milhares de pessoas foram às ruas da capital para comemorar a queda de Assad. Reflexos dessas celebrações também foram vistos em cidades europeias, protagonizadas por refugiados sírios. No entanto, o futuro político do país permanece incerto. “Hoje celebramos, mas amanhã começamos o trabalho duro”, afirmou Hind Kabawat, professora síria e especialista em resolução de conflitos, em entrevista à Al-Jazeera. “Precisamos construir um governo democrático, e isso só pode ser feito pelos sírios, mas com o apoio do mundo.”
O papel do HTS e as incertezas
Apesar de liderar a ofensiva, o HTS ainda não detalhou como governará o país. Mohammed al-Golani, líder do grupo, classificou a tomada de Damasco como “uma vitória para a nação islâmica”, mas enfrentou questionamentos sobre a proteção das minorias e os direitos das mulheres. Embora tenha prometido garantir a segurança de todos, incluindo minorias religiosas, ele não apresentou um plano claro de governo, tampouco mencionou eleições ou parcerias com outros grupos de oposição.
Por ora, foi anunciado que o atual primeiro-ministro, Mohammed Ghazi al-Jalali, permanecerá no cargo durante a transição. Contudo, a fragmentação interna do país e a diversidade de grupos opositores – tanto no interior quanto no exílio – representam grandes desafios para a estabilização do futuro governo.
Riscos e reações internacionais
A comunidade internacional reagiu com cautela à queda de Assad. Nos EUA, o presidente Joe Biden declarou: “Finalmente, o regime de Assad acabou. Mas este é um momento de riscos e incertezas.” A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, seguiu na mesma linha, celebrando a queda do “regime cruel” enquanto alertava para os perigos de instabilidade.
O líder do HTS, Mohammed al-Golani, permanece como uma figura controversa, sendo procurado pelos EUA, que oferecem US$ 10 milhões por informações que levem à sua captura. A incerteza sobre como a comunidade internacional lidará com o novo governo, especialmente sob a liderança de um grupo rotulado como terrorista, complica ainda mais o cenário.
Oportunidade ou ameaça?
Especialistas como Haid Haid, do Chatham House, destacam que o momento traz possibilidades inéditas para a Síria. “Há, pela primeira vez, uma chance de que o futuro possa ser melhor do que o presente. Mas os riscos permanecem consideráveis”, afirmou. Com a fragmentação do país e a diversidade de interesses em jogo, o desafio agora será construir um governo estável e inclusivo em um cenário profundamente dividido.