Falta de acesso a mamógrafos limita prevenção do câncer de mama
Publicado em 17/10/2025 às 09:17
Foto: José Cruz/Agência Brasil
No mês de conscientização sobre o câncer de mama, um relatório do Atlas da Radiologia no Brasil, elaborado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), destaca a importância de garantir acesso igualitário ao rastreamento e tratamento da doença. O estudo revela que, embora o país tenha 6.826 mamógrafos registrados — 96% deles em funcionamento —, a distribuição e o acesso ainda são desiguais.
Metade dos equipamentos está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), que atende cerca de 75% da população. Isso representa 2,13 mamógrafos por 100 mil mulheres dependentes do SUS. Já na saúde suplementar, que cobre 25% da população, há 6,54 aparelhos por 100 mil beneficiárias — quase o triplo da rede pública. O Acre é o exemplo mais extremo dessa desigualdade: enquanto a rede privada tem 35,38 mamógrafos por 100 mil habitantes, o SUS conta com apenas 0,84.
As disparidades também se refletem entre as regiões. Roraima tem a menor proporção de aparelhos (1,53 por 100 mil habitantes), seguida do Ceará (2,23) e do Pará (2,25). A Paraíba lidera o ranking nacional (4,32), à frente do Distrito Federal (4,26) e do Rio de Janeiro (3,93).
De acordo com a coordenadora da Comissão Nacional de Mamografia do CBR, Ivie Braga de Paula, o número de equipamentos seria suficiente, mas barreiras logísticas e estruturais dificultam o acesso e levam à subutilização.
“Há problemas de informação, de comunicação, de acesso e de logística, principalmente na Região Norte. Em muitas localidades, os mamógrafos estão nas cidades centrais e a população ribeirinha precisa viajar até sete horas de barco para realizar o exame. Até nos grandes centros, pacientes da periferia enfrentam dificuldades para marcar e chegar a um local com mamógrafo”, explica Ivie.
A cobertura nacional de mamografias é de apenas 24%, bem abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mesmo em São Paulo, estado com a maior concentração de aparelhos, o índice não passa de 26%.
Em setembro, o Ministério da Saúde ampliou as diretrizes de rastreamento, recomendando que mulheres entre 40 e 49 anos realizem mamografias preventivas, mesmo sem sintomas. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 73 mil mulheres são diagnosticadas com câncer de mama por ano no Brasil.
“O que reduz a mortalidade é identificar o tumor antes de surgirem os sintomas. Quanto menor o tumor, maior a chance de cura — e isso só é possível com exames de imagem”, ressalta Ivie. Ela explica que, quando o câncer é detectado com menos de 1 cm, a chance de cura chega a 95% em cinco anos. “Essas mulheres são saudáveis, e é por isso que precisam realizar o exame preventivo”, completa.
Fonte: Rafael Cardoso – Repórter da Agência Brasil