
Arte, Crônicas e Poesia
Um violão quebrado
Publicado em 12/06/2025 às 10:10


Em tempos de tantos semblantes austeros e cansados, como é admirável um rosto alegre e feliz. A percepção é que estamos todos exauridos – não de um cansaço comum, mas de um cansaço existencial.
De certo modo o que contribui bastante para isso é o medo de relacionamento com as pessoas, seja de forma amorosa ou simplesmente afetiva. Tenho notado que o excesso de vigilância e o temor da frustração afastaram as pessoas.
Ultimamente, vemos surgir movimentos recíprocos de ódio a homens e mulheres. Ao exporem possibilidades funestas, o fazem com determinismo inexorável. O medo de sofrer é tão profundo que tem gerado um apego exacerbado aos animais e simulacros de bebês.
Realmente, qualquer relacionamento afetivo é arriscado. Às vezes apostamos tudo e saímos com nada – e como muitos dizem, sentindo-se um nada. As cicatrizes, na maioria das vezes, duram a vida toda.
Diante disso tudo, surge o maior questionamento: existirá uma vida sem dor afetiva? Será possível viver blindado de tudo? O pano de fundo dessas projeções é exatamente isso, ter uma vida sem dor amorosa.
De todas as áreas da vida, a única que realmente não sabemos como reagir é diante dos fracassos amorosos. É o tipo de experiência que não é ensinável, cada indivíduo a seu modo superou ou não uma desilusão.
Muitas vezes, na vida, somos como crianças que acabaram de construir um castelo de areia e ao final de todo esforço e dedicação vem uma onda gigante e desmonta tudo. Terá algum sentido nisso?
Trabalhei muitos anos com a população em situação de rua e um senhor me disse: “As coisas que silenciam o homem são dores que a si próprio desconhece”.

Demorei anos para, de fato, começar a compreender. Muitos conselhos são perdidos quando não são tatuados pela dor em nossa pele e marcados no coração.
Com o tempo, sentimos menos necessidade de falar e passamos a apreciar muito mais o ouvir. As respostas deixam de ter tanto valor. E as lamentações da juventude tornam-se gratidão por cada segundo permitido.
Todos nós somos pequenos universos, cheio de segredos e mistérios. Podemos conviver a vida inteira com uma pessoa e, ainda assim, nunca conheceremos a profundeza de sua alma. A cada dia um novo ser surge – fruto de escolhas e dissabores. Muitas vezes esquecemos que o presente determina tudo.
Essa percepção do outro atualmente está cada vez mais rara. A grande maioria das pessoas está parada diante da própria imagem. Os diálogos se transformaram em monólogos enfadonhos de conquistas inexistentes.
Entretanto, sinto que muitos estão perdidos, sem qualquer perspectiva de melhora da sua própria realidade presente e futura.
Compreendo que, em muitas situações, apenas clamamos para o céu em busca de respostas. E, por mais que gritemos até perder a voz, nada ouvimos, nada encontramos de alento para o espírito angustiado – como um violão quebrado que outrora tocou grandes notas e hoje tem apenas a nostalgia e solidão.
Nada é mais desafiador que o fundo do poço. Por mais que muitos digam que há apenas uma opção, sinto discordar: a opção mais fácil é não fazer nada – não por preguiça, mas por medo de uma nova frustração.
A dor envolve todo o corpo, cria-se uma espécie de bolha. Por essa razão, o sofredor pouco escuta o mundo exterior; envolto em si, pouco acredita que existirá algo capaz de mudar toda a situação.
Enfim, diante do absurdo, seguem surdos!
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