Trabalhadora é vítima de injúria racial cometida por estudantes do Ifes em Venda Nova do Imigrante

Publicado em 27/11/2025 às 08:18

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Ifes Venda Nova do Imigrante - Julio Huber

Texto: Bruno Caetano / Foto: Julio Huber

Uma trabalhadora que distribuía panfletos na região do Centro de Eventos Padre Cleto Caliman, o Polentão, em Venda Nova do Imigrante, relatou ter sido vítima de injúria racial na tarde da última segunda-feira (24). Segundo ela, as ofensas partiram de um grupo de cerca de 15 jovens usando uniforme do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes).

A mulher contou que havia deixado o filho na escola e, acompanhada da mãe, seguiu para o local onde faria a distribuição dos panfletos. Ela afirmou que escolheu a área próxima ao estacionamento do Polentão justamente para evitar tumulto na entrada principal do campus. Enquanto tentava explicar aos transeuntes que o evento divulgado tinha atrações diversas, incluindo opções para debutantes, foi surpreendida pelas agressões verbais.

De acordo com a vítima, o grupo de estudantes recusou os panfletos e a insultou com frases como “só podia ser negra mesmo para vir aqui entregar papel”, “sabia, preta mesmo” e “negra só podia ser”. A mulher relatou que, ao ouvir os ataques, ficou imediatamente preocupada com a mãe, que estava próxima, e decidiu deixar o local. Ela disse que os jovens riram e continuaram fazendo comentários depreciativos.

A trabalhadora afirmou que não pediu ajuda nem registrou boletim de ocorrência, mas revelou ter ficado abalada ao imaginar que sua mãe poderia ter sido alvo das mesmas ofensas. O caso começou a repercutir nas redes sociais após testemunhas relatarem a cena.

IFES emitiu nota de repúdio

Após a repercussão, o Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Venda Nova do Imigrante publicou uma nota de repúdio condenando o episódio. A instituição afirmou que, apesar de o caso ter ocorrido fora do espaço escolar, os fatos serão apurados.

“O Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Venda Nova do Imigrante vem a público manifestar seu mais profundo repúdio ao episódio de injúria racial ocorrido próximo de nossas dependências no início da tarde de ontem (24/11). Uma trabalhadora que entregava panfletos foi alvo de ofensas inaceitáveis por parte de indivíduos que, ao que tudo indica, são estudantes da instituição”, destaca, a instituição.

O Ifes ainda informou que condena, de forma veemente, quaisquer atos de preconceito, discriminação ou violência que atentem contra a dignidade humana e os valores que norteiam a instituição. “Temos uma trajetória sólida de promoção da diversidade, da equidade e da defesa da dignidade humana. Contamos com núcleos, projetos e ações permanentes de combate ao racismo e a todas as formas de preconceito. Trabalhamos para formar profissionais, que não compactuam com violência racial, discriminação ou qualquer prática que fira a integridade de alguém”.

A instituição garantiu que reafirma o compromisso com a promoção da igualdade, do respeito e da valorização da diversidade em todos os espaços do Instituto. “Ainda que o fato tenha ocorrido fora do ambiente institucional, informamos que os acontecimentos serão devidamente apurados. Não compactuamos com atitudes que contrariem nossos princípios institucionais e reforçamos que o Ifes seguirá empenhado na promoção de ações educativas, preventivas e de enfrentamento a todas as formas de preconceito e discriminação”

Venda Nova do Imigrante já registrou outros casos de racismo em 2025

O caso ocorreu em um ano marcado pelo aumento de registros relacionados a crimes de racismo e injúria racial no Espírito Santo. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que há atualmente 326 processos pendentes de julgamento no Estado. Somente em 2025, até esta terça-feira (25), 122 novos casos foram registrados, e 95 ainda aguardam decisão.

Em Venda Nova do Imigrante, onde ocorreu o ataque verbal à trabalhadora, sete casos de racismo ou injúria racial foram registrados este ano. O município aparece ao lado de outros 49 no mapeamento estadual dos processos. Segundo o CNJ, as mulheres são as principais vítimas, presentes em 56,4% das ações.

O levantamento também mostra o cenário regional das montanhas capixabas com casos registrados esse ano: Afonso Cláudio (4), Castelo (6), Conceição do Castelo (4), Domingos Martins (5), Vargem Alta (3) e Venda Nova do Imigrante (7). Marechal Floriano não apresentou ocorrências na lista divulgada pelo CNJ.

A orientação do CNJ é que, durante o mês da Consciência Negra, ao menos 20% dos processos recebam movimentação concreta ou julgamento, segundo o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES). A priorização contempla ações que envolvem questões de raça, cor, etnia, origem, políticas afirmativas, cotas e discriminação racial.

Diferença entre racismo e injúria racial e como denunciar

O crime de racismo atinge um grupo de pessoas, por exemplo, todas as pessoas de uma determinada raça. Já a injúria racial é quando a honra de uma pessoa específica é ofendida por conta de raça, cor, etnia, religião ou origem. Se o alvo do crime for todas as pessoas negras, por exemplo, ele se enquadra como racismo; já se a ofensa for direcionada a uma pessoa, e não à raça toda, é uma injúria racial.

Quem presenciar ou for vítima de racismo ou injúria racial pode procurar imediatamente uma unidade policial para registrar um boletim de ocorrência. O registro pode ser feito presencialmente em qualquer Delegacia de Polícia Civil ou, nos casos de injúria racial, também pela Delegacia On-line do Espírito Santo.

O boletim é fundamental para que o caso seja investigado, possibilite a identificação dos autores e siga para responsabilização judicial. Testemunhas, fotos, vídeos e qualquer informação que ajude a comprovar o fato devem ser anexados à denúncia.

Também é possível acionar a Polícia Militar pelo telefone 190, caso a agressão esteja acontecendo no momento, garantindo atendimento imediato. Além disso, vítimas podem pedir apoio a órgãos como a Defensoria Pública, o Ministério Público Estadual ou o Disque 100, serviço federal especializado em violações de direitos humanos. Especialistas reforçam que denunciar é uma forma de garantir justiça e, ao mesmo tempo, fortalecer o enfrentamento ao racismo em toda a sociedade.

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