Ter ensino superior no Brasil pode significar mais que o dobro do salário
Publicado em 09/09/2025 às 08:20
Foto: Arquivo/Agência Brasil
Ter um diploma de ensino superior no Brasil ainda faz muita diferença. De acordo com o relatório Education at a Glance (EaG) 2025, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), quem conclui essa etapa de ensino ganha, em média, 148% a mais do que aqueles que têm apenas o ensino médio — mais que o dobro. A diferença é bem maior do que a média da OCDE, onde a vantagem salarial é de 54%.
Apesar do impacto positivo, o acesso e a conclusão do ensino superior no país seguem limitados. Segundo o IBGE, apenas 20,5% dos brasileiros com 25 anos ou mais possuíam diploma universitário em 2024. O índice está entre os mais baixos do grupo de países avaliados.
Evasão e baixa conclusão
Outro problema destacado é a alta evasão. No Brasil, um em cada quatro estudantes (25%) abandona o curso já no primeiro ano do bacharelado, quase o dobro da média da OCDE (13%). Mesmo após três anos além do tempo previsto para a graduação, menos da metade (49%) conclui os estudos — contra 70% entre os países da organização.
Com isso, apenas 24% dos jovens de 25 a 34 anos concluem o ensino superior, pouco menos da metade da média da OCDE (49%). O relatório aponta que a evasão pode estar relacionada a um descompasso entre expectativas e realidade dos cursos, além de falhas na orientação profissional e falta de apoio a novos ingressantes.
Desigualdades de gênero e juventude fora da escola
O estudo também mostra que as mulheres têm mais chances de concluir o ensino superior do que os homens: no Brasil, a taxa de conclusão chega a 53%, contra 43% entre eles. A diferença de nove pontos é menor do que a média da OCDE (12 pontos).
Outro dado preocupante é que 24% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos não estudam nem trabalham (NEET). Esse percentual supera a média da OCDE (14%) e mostra desigualdade de gênero: 29% das mulheres estão nessa condição, contra 19% dos homens.
Poucos estudantes internacionais
A mobilidade estudantil também é limitada. Enquanto a média de estudantes estrangeiros matriculados em universidades da OCDE passou de 6% em 2018 para 7,4% em 2023, o Brasil manteve um índice praticamente nulo, de 0,2%.
Investimentos abaixo da média
O relatório aponta ainda que o país investe US$ 3.765 por aluno no ensino superior (cerca de R$ 20 mil), valor bem inferior à média da OCDE, de US$ 15.102 (R$ 80 mil). Em relação ao PIB, no entanto, o Brasil destina 0,9%, percentual semelhante ao dos países-membros, considerando também os gastos em pesquisa e inovação.
Qualidade e perspectivas
A OCDE alerta que as baixas taxas de conclusão comprometem o retorno do investimento público, aumentam a escassez de profissionais qualificados e limitam oportunidades. O secretário-geral da organização, Mathias Cormann, defende mudanças como:
- reforço da orientação acadêmica no ensino médio;
- programas universitários mais claros e bem estruturados;
- medidas de apoio a estudantes em risco;
- opções mais flexíveis e inclusivas, incluindo cursos curtos e personalizados.
A organização também chama atenção para a qualidade da formação. Em média, 13% dos adultos com diploma de ensino superior nos países avaliados não atingem sequer o nível básico de alfabetização, sendo capazes apenas de compreender textos curtos sobre temas familiares.
Segundo a OCDE, o desafio é ampliar o acesso ao ensino superior no Brasil sem abrir mão da qualidade e da relevância da formação ofereci
Fonte: Mariana Tokarnia – Repórter da Agência Brasil