Pesquisa capixaba ajuda produtores de abacaxi a controlar floração e colher na época de melhor preço
Publicado em 10/07/2025 às 08:21

Foto: Freepik
Uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) traz uma solução inovadora para um dos principais desafios da produção de abacaxi: o controle da floração natural. A técnica permite que os agricultores programem o momento da floração da planta e, consequentemente, o período da colheita, garantindo maior qualidade e melhores preços para a fruta.
A inovação se baseia na aplicação da aviglicina (AVG), substância que inibe a produção de etileno — hormônio responsável por induzir a floração. Segundo a pesquisadora Sara Dousseau Arantes, o estudo foi motivado pela necessidade de contornar a floração desuniforme que afeta a produção capixaba, especialmente entre junho e agosto. Esse fenômeno gera colheitas irregulares, aumenta os custos e prejudica o planejamento da lavoura.
Outro problema recorrente é a concentração da colheita entre novembro e janeiro, período de maior oferta no mercado e queda no valor pago ao produtor. “Com essa tecnologia, foi possível ajustar o manejo para colher na entressafra, entre abril e junho, quando os preços são mais atrativos”, destaca Sara.
Estudo testou cultivares tradicionais e resistentes
O trabalho foi realizado entre 2019 e 2020, em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), na Fazenda Experimental do Incaper em Sooretama, região norte do Estado — uma das principais áreas produtoras de abacaxi. Os testes envolveram duas cultivares comuns no Espírito Santo: a ‘Pérola’, tradicional entre agricultores familiares e mais sensível à fusariose, e a ‘Vitória’, variedade resistente desenvolvida pelo próprio Incaper.
A aplicação da aviglicina antes do inverno mostrou-se eficaz para inibir até 80% da floração natural, permitindo que os produtores realizem a indução artificial de forma controlada. A dose recomendada de 100 mg/L apresentou os melhores resultados, controlando a floração sem afetar o crescimento das plantas ou a qualidade dos frutos. Doses maiores aumentaram o tempo de controle, mas causaram fitotoxicidade.
Produção escalonada e uso viável na agricultura familiar
Com o uso correto da técnica, é possível escalonar a produção ao longo do ano, o que representa uma vantagem competitiva para os produtores. No entanto, a pesquisadora ressalta que o uso da aviglicina ainda enfrenta um entrave legal: o produto não possui registro específico para o abacaxi no Brasil. Isso obriga os agricultores a manipularem a substância em sua forma pura, seguindo cuidados técnicos e normas de segurança.
Nesse cenário, o papel da assistência técnica é essencial. “A atuação de engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas é fundamental para garantir o sucesso do manejo”, afirma Sara.
Apesar da exigência técnica, a tecnologia é economicamente viável para pequenos produtores. “A dose é acessível e o efeito, eficiente. Mas a aplicação exige atenção à diluição, ao calendário e às condições climáticas. O suporte técnico é essencial para garantir bons resultados com baixo custo”, complementa.
Apoio técnico gratuito e publicação científica
O Incaper oferece orientação gratuita aos produtores interessados, por meio dos Escritórios Locais de Desenvolvimento Rural. Os profissionais estão capacitados para orientar sobre o uso da aviglicina e o controle da floração do abacaxizeiro.
O artigo científico que detalha a pesquisa está disponível gratuitamente na revista Frontiers in Plant Science, no link: https://doi.org/10.3389/fpls.2025.1578598.
A pesquisa foi financiada pela Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).
Fonte: Incaper