Arte, Crônicas e Poesia
MÃE-PAQUITA, PAI-PAQUITO (escrito por ANTONIO NETO)
Publicado em 05/12/2024 às 16:14
Conheço um gesseiro que trabalhou em um hospital particular da Grande Vitória. Certo dia, este profissional da Saúde me contou algo que me deixou … pasmo! O caso é este: um pai levou a filha de seus 8 anos ao hospital. O cúbito (osso do antebraço) apresentava uma lesão, era preciso engessar o braço. Na linguagem popular, o osso estava “trincado”, pronto! O médico determinou, a criança não aceitou. Em vez de o pai convencer a filha de que aquilo era necessário, quem o fez foi o médico, à custa de bastante alteração nervosa, porque ninguém é obrigado a educar o filho dos outros, mesmo que esses outros paguem planos de saúde bastante caros.
Vencida pela contundente reprimenda do médico, a menina “deixou” o gesseiro fazer o serviço dele. O pai ficou ali, como se fosse um assistente de palco do extinto Xou da Xuxa. Quem advertiu, admoestou, impôs o tratamento necessário foi o médico e, posteriormente, o gesseiro. O pai, de suas quatro décadas de vida, parecia estar no recreio da educação infantil, nada falava, a boca ficava aberta porque ele era boca-aberta mesmo.
Enfim, braço engessado. Pai e filha saíram. O médico foi para o plantão em outro hospital da capital do Espírito Santo. Só o gesseiro ficou. Passados cerca de quarenta minutos, voltam pai e filha.
– Senhor, ela não quer ficar com o gesso. O senhor tire, por favor!
A menina venceu. Sem o gesso, vitoriosa, ela saiu com o cúbito trincado e arrastando o pai atado à estranha coleira moral.
Foto: Freepik
Isso não acontece só em Vitória, não! Está viralizando nas redes sociais o caso de uma passageira que não aceitou ceder o lugar à janela para uma “criança” que se esgoelava, querendo o lugar ao qual não tinha direito, ao que se sabe. Atualmente, em algumas empresas aéreas, temos que pagar pelo direito de escolha da poltrona no momento da compra das passagens aéreas ou ir em assento que a companhia indicar.
A jovem que não cedeu o lugar foi filmada, constrangida pela mãe e por outras vozes do avião que acusavam de “não ter empatia com a criança”. Que tempos são esses de Ditatura Infantil? A criança decide se fica ou não com o gesso no braço! Os pais não conseguem controlar o filho que não obtém o que quer porque não tem o direito.
Da minha parte, se eu fosse o gesseiro, também seria obrigado a retirar o gesso, porque o cliente (quase) sempre tem a razão. Porém, enquanto passageiro do avião, se eu paguei por um assento, tenho a opção de ceder, se eu quiser. Não aceito imposição de criança mal-educada, de mãe-paquita, de pai-paquito. Já viajei de avião muitas vezes, não faço questão de ir em assento da janela. Cedo sim, se for da minha vontade. Se não for da minha vontade, se eu estiver no meu direito, não cedo.
A mãe-paquita e o pai-paquito que se matriculem em um curso de Paternidade e Maternidade Consciente, porque o mundo não vai se curvar à Suprema Vontade da Sua Majestade a Criança.
O que aconteceu com o braço da criança capixaba? Não sei. Entretanto, lá na frente, ela vai – literalmente -, quebrar a cara; porque agora ela é Imperatriz na casa dela, já no mundo, ela é só mais uma na fila do pão.