Grupo de mães busca conscientização sobre o autismo em Domingos Martins
Publicado em 29/04/2025 às 16:06

Texto: Bruno Caetano / Fotos: Divulgação
O mês de abril, dedicado à conscientização sobre o autismo, tem ganhado cada vez mais relevância em várias partes do Brasil. Em Domingos Martins, a mobilização de mães, profissionais e da comunidade local foi intensificada, com o objetivo de dar visibilidade às necessidades das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Em Domingos Martins, como em muitas cidades do interior, o diagnóstico precoce de TEA é um grande desafio. Anna Flávia Dubbberstein, uma jovem de 21 anos, diagnosticada com TEA, compartilhou suas percepções sobre a experiência de viver na cidade.
“Viver em Domingos Martins é bem parecido com viver em qualquer cidade. Tem seus desafios, como a questão da acessibilidade e a falta de compreensão em alguns momentos, mas também tem o lado bom, como a tranquilidade, o contato com a natureza e uma comunidade que aos poucos vai mostrando apoio,” explica Anna.

Assim como qualquer outra pessoa, Anna tem sua rotina diária, equilibrando faculdade e trabalho. Ela conta como é lidar com TEA nesses lugares. “Os ambientes geralmente são bem acolhedores, a equipe está sempre pronta para ajudar, e isso faz toda a diferença para mim. No entanto, muitas pessoas não estão preparadas para lidar com as particularidades do autismo”, revela.
Para a jovem, o ponto crucial sobre a inclusão é a forma como o TEA é visto pela sociedade. “Gostaria que as pessoas enxergassem o TEA de uma forma diferente. Não é uma doença, nem sinônimo de preguiça. Temos limitações, sim, mas também muitas habilidades e um grande potencial”, afirma
ATENDIMENTOS – Assim como a realidade Anna, viver com TEA é difícil para muitas famílias. O Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta enormes dificuldades para oferecer diagnósticos rápidos e adequados. Muitas famílias precisam esperar um logo tempo obter o diagnóstico, e o acompanhamento especializado é limitado, o que leva muitos a buscar alternativas em clínicas particulares ou na Grande Vitória.

Ana Rita Fonseca, mãe do pequeno Bernardo Ribeiro, de 5 anos, relata a longa espera para o diagnóstico de seu filho. “Aguardamos mais de um ano na fila de espera pelo diagnóstico, e hoje meu filho faz as terapias pelo plano de saúde em clínica particular,” contou Ana Rita. Para muitas famílias, o acesso a terapias especializadas é uma realidade distante, e a saúde pública local ainda não oferece o suporte necessário.
O papel das mães em grupos de apoio
Diante da falta de recursos, algumas mães começaram a se organizar para se apoiar mutuamente. Em 2024, um grupo de apoio entre mães de crianças com TEA foi criado em Domingos Martins, inicialmente por meio de um grupo no WhatsApp. “Nos reunimos para compartilhar informações e experiências. Em novembro de 2024, conseguimos nos encontrar pessoalmente e estamos tentando criar uma associação para apoiar as famílias de crianças com autismo,” explicou Ana Rita.
Esse movimento busca estruturar um sistema de apoio mais robusto, oferecendo recursos materiais e emocionais para as famílias. Emanueli Mayer, mãe da jovem Julia Mayer de Freitas, de 15 anos, também compartilha suas experiências com o grupo. “Conhecer e conviver com outras mães na mesma situação ajuda demais. Podemos nos entender e nos ajudar de maneiras que só quem passa pela mesma realidade sabe como é”, afirma.

Embora ainda existam muitas dificuldades, a união das mães tem sido uma fonte importante de força. Emanueli destaca também a importância do apoio emocional. “O dia a dia de uma mãe atípica é exaustivo. A grande maioria não tem uma rede de apoio e suporte emocional”, conta.
Conscientização e formação de profissionais
A conscientização sobre o TEA na região ainda está em estágio inicial, e a falta de formação especializada para profissionais da educação e saúde é um obstáculo significativo. Raisa Feitosa, psicóloga neuropsicóloga que trabalha com pessoas com TEA em Domingos Martins, comentou sobre as dificuldades no município.

“Quando comecei a trabalhar aqui, percebi que Domingos Martins estava atrasado em relação ao atendimento de pessoas com TEA. Faltava um tratamento multidisciplinar que envolvesse fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicopedagogos. A APAE ainda não consegue atender toda a demanda”, disse Raisa.
Segundo ela, a falta de formação também se reflete no ambiente escolar, onde muitos educadores ainda não estão preparados para lidar com as especificidades dos alunos com TEA. “Os professores estão se adaptando, mas ainda há muita desinformação. O autismo não é uma doença, mas muitos ainda não compreendem isso”, afirmou.
Além disso, Raisa destaca que o acesso ao diagnóstico especializado pelo SUS ainda é limitado. Ela ressalta que, embora o número de diagnósticos tenha aumentado nos últimos anos, o município ainda enfrenta barreiras, especialmente na obtenção de atendimento de neuropediatras especializados, essenciais para a confirmação do diagnóstico.
Apesar das dificuldades, o movimento de apoio ao TEA tem ganhado força. “Nosso objetivo é promover encontros e eventos tanto para as famílias quanto para a sociedade em geral, além de firmar parcerias com profissionais da área”, disse Ana Rita.
Movimento ganha força em Domingos Martins

Em abril, parte do grupo de mães de Domingos Martins participou da Caminhada da Associação de Amigos dos Autistas do Espírito Santo (Amaes), realizada na orla de Camburi, em Vitória. O evento, que reuniu cerca de 5 mil pessoas, teve como tema “Empatia hoje e sempre” e visou promover a inclusão social das pessoas com TEA.
Emanueli acredita que o município tem mostrado esforço para lidar com essas demandas, mas ressalta que ainda há muito a ser feito. “O poder público está empenhado, e isso me deixa feliz, mas a conscientização precisa avançar ainda mais”, afirmou.
A luta pela inclusão das pessoas com autismo vai além do atendimento médico. Ela envolve também a mudança de atitudes da sociedade e a educação das novas gerações. “Ao longo dos anos, aprendi muito com minha filha. O autismo não é contagioso, não é uma doença, e não é uma limitação. Ela tem capacidades incríveis, e isso me ensinou a ser uma pessoa melhor”, concluiu Emanueli.