Família busca explicações de hospital após morte de agricultor que foi picado por cobra

Publicado em 15/01/2022 às 17:51

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Agricultor morre por picada de cobra venenosa (2)

O que seria mais um dia de trabalho para o agricultor Fredolino Kempin, morador de Alto Galo, distante cerca de 15 quilômetros da Sede de Domingos Martins, terminou de forma trágica. O agricultor, de 43 anos, foi picado por uma cobra da espécie jararacuçu, e morreu quatro dias depois.

A família viveu um drama após a picada da cobra, ocorrida na última quarta-feira (05), e ainda buscam respostas sobre a morte de Fredolino, que era casado e deixou dois filhos, uma menina de três anos e um menino de cinco anos. Celina Pagung, prima do agricultor, disse que a comunidade onde o agricultor morava ficou chocada com o ocorrido.

Fredolino morava em Domingos Martins e tinha 43 anos

“A família está enlutada e muito triste. É uma situação muito difícil, e o que gerou ainda mais tristeza é a demora para transferir meu primo para um hospital de Vitória. Talvez ele não tivesse vindo a óbito se algo tivesse sido feito com mais urgência”, lamenta Celina.

A irmã de Fredolino, Anita Kempin, contou que ele foi roçar bananas com uma roçadeira movida à gasolina, em uma plantação distante cerca de 600 metros da casa dele. “Depois de roçar uma parte da plantação, ele desceu e percebeu uma queimação na perna. Ele pensou que tivesse sido um galho de mato, mas quando olhou melhor, ele viu a cobra em um buraco. Meu irmão matou a cobra com a roçadeira e a levou até uma estrada”, explicou Anita.

Em seguida, o agricultor pilotou a sua moto até a casa de um irmão, onde encontrou a cunhada. “Ele contou para a minha cunhada que havia sido picado por uma cobra, e pediu para que ela o levasse para o hospital. Ele ainda passou na sua casa, mas começou a sentir dor e chegou a passar mal. Ele só trocou de roupa e foi levado ao hospital”, relatou Anita.

O agricultor conseguiu matar a cobra, da espécie jararacuçu, e a levou até uma estrada

Em menos de uma hora ele chegou ao Hospital e Maternidade Dr. Arthur Gerhardt (HMAG), na sede do município, onde foram aplicadas seis ampolas com soro antiofídico (medicamente usado para combater o veneno de cobras). Mesmo assim, a situação de Fredolino piorou e a sua perna ficou muito inchada, conforme relatou a irmã.

SEM VISITA – No final do mesmo dia em que foi internado, os irmãos do agricultor e a esposa foram até o hospital para buscar informações sobre o seu estado de saúde, mas eles alegaram que foram proibidos de visitá-lo.

“Ele estava sem aparelho de celular e gostaríamos de saber como ele estava. Mesmo com muita insistência, não nos deixaram ver meu irmão. Como a minha filha é enfermeira, ela conseguiu ver ele rapidamente, e ele reclamava que não aguentava de tanta dor”, contou Anita.

No outro dia, mais uma vez a família alega que não conseguiu visitar o agricultor. “No outro dia, fiquei de 10h até 13h30 e não me deixaram entrar. O meu outro irmão e minha cunhada (esposa de Fredolino), também chegaram ao hospital. Pedimos pelo amor de Deus a um enfermeiro para que deixasse que alguém levasse apenas o celular para ele. Foi quando minha cunhada conseguiu subir rapidamente, mas não pôde ficar nem três minutos no quarto”, contou.

O agricultor Fredolino foi picado na perna enquanto roçava uma plantação de bananas em sua propriedade

Mais tarde, a filha de Anita, que é enfermeira, conseguiu novamente visitar o tio. “Ela conversou com médicos e pediu para que meu irmão fosse transferido. Ele estava com muita dor na perna. Quando chegou ao Hospital Estadual de Urgência e Emergencia (HEUE), em Vitória, conseguimos visita-lo. No domingo, quando eu fui vê-lo, ele estava com a perna muito infeccionada. É muito triste. Não sei porque ele não foi transferido logo que chegou no hospital de Domingos Martins”, lamenta Anita. 

PERNA AMPUTADA – De acordo com Anita, na quinta-feira de madrugada, assim que deu entrada no HEUA, foi feita uma cirurgia na perna. Já no domingo (08), no final do dia, a perna dele teve que ser amputada. Por volta de 20 horas do mesmo dia, a família recebeu uma ligação de representantes do hospital e foi solicitado para que familiares comparecessem ao hospital com os documentos do agricultor.

A irmã de Fredolino contou que a família ficou chocada com a morte do agricultor, e questionam a conduta adotada pelo hospital de Domingos Martins. “A única coisa que queremos, são respostas, pois eles não levaram meu irmão logo para Vitória, não deixaram a gente entrar para poder vê-lo e porque eles não amputaram a perna dele logo, sendo que ela já estava toda infeccionada”, destacou.

Hospital explica questionamentos da família

O diretor técnico do HMAG, o médico Frederico Vilela Toé, respondeu aos questionamentos feitos pela família do agricultor. Sobre o relato de dificuldades de familiares em visitar Fredolino, o diretor técnico informou que devido à pandemia da Covid-19, a circulação de pessoas dentro do hospital está reduzida. “Visitas somente em casos selecionados e acompanhantes somente nos casos legais e com troca de acompanhantes a cada 24 horas”, destacou.

De acordo com o médico Frederico, mesmo com regras rígidas, o hospital vem sofrendo com casos de Covid. “Os casos de ausências de membros da equipe são frequentes e, infelizmente, tivemos óbitos entre os nossos colaboradores”, comentou.

Sobre a transferência do paciente para um hospital da Grande Vitória, o diretor técnico afirmou que foi realizada no momento correto. “O paciente foi transferido devido a uma complicação do quadro conhecido como síndrome compartimental. Essa complicação pode acontecer em casos de ofidismo (quadro de envenenamento por picada de cobra). Antes da presença desta complicação, não havia indicação de transferência”, enfatizou.

O diretor técnico ainda informou que houve a utilização no paciente de soro antiofídico conforme prevê o protocolo. Segundo ele, o hospital possui soro para ser usado em casos de picadas de cobras mais comuns na região e também para venenos incomuns registrados na região.

Segunda maior serpente do Brasil

A jararacuçu é considerada a segunda maior cobra peçonhenta do Brasil. Seu nome científico é Bothrops jararacussu, pertencente à família Viperidae. Na fase adulta, seu comprimento pode atingir até 2,20 metros. A coloração da jararacuçu exibe diferenças ao longo de seu desenvolvimento e entre os sexos. Nas fêmeas jovens, o dorso apresenta coloração variando de amarelada a bege rosado, enquanto nos machos é escuro com manchas de amareladas a marrom-acinzentadas.

As fêmeas são maiores que os machos, o que é comumente observado na maioria dos membros da família Viperidae. Devido à impecável camuflagem desta serpente, percebê-la em seu ambiente natural é um desafio.

Ela possui uma dentição do tipo solenóglifa, constituindo-se de presas retráteis, altamente especializadas na inoculação de peçonha e que atingem até 2,5 cm de comprimento. A jararacuçu é uma serpente Sul-Americana, registrada no Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina. Em território nacional, habita a região Sul e Sudeste, além dos Estados da Bahia e do Mato Grosso do Sul.

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