Espírito Santo se destaca na alta qualidade e produtividade de tomate

Publicado em 01/11/2019 às 13:25

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Produzir tomate de qualidade requer dedicação, tecnologia e altos investimentos. E o Espírito Santo é considerado um dos destaques nacionais. A alta produtividade e a qualidade dos frutos colocam o Estado entre os principais produtores do Brasil. A reportagem do portal Montanhas Capixabas circulou por regiões produtoras para conhecer um pouco mais desse segmento, que gera renda a milhares de famílias capixabas e incrementa a economia de muitos municípios.

Com uma produção anual de 175.583 toneladas, colhidas em 2.629 hectares de área em 2018, segundo dados do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o tomate do Espírito Santo tem ganhado fama nacional e mudado para melhor a realidade de muitas famílias. E, com o passar dos anos, muita coisa mudou nessa cultura.

Em muitos casos, o gosto pelo plantio passa de geração em geração. Em Venda Nova do Imigrante, da Região Serrana do Espírito Santo – um dos municípios que mais produz a fruta no Estado – a história do jovem Julimar Cesconetto, 31 anos, e de seu pai Tarcísio, 66, ilustra essa paixão pelo plantio. Tarcísio conta que iniciou plantando tomate como meeiro em propriedades da região. Hoje, ele e o filho plantam mais de um milhão de pés de tomate por ano.


“Eu comecei em 1978 cultivando cinco mil plantas por ano. Depois passei a plantar duas vezes por ano e fomos aumentando a quantidade. Na época, vendíamos na Ceasa de Cariacica”

TARCÍSIO CESCONTETTO – PRODUTOR RURAL


CRESCIMENTO

especial tomate3E de meeiro, Tarcísio, já com o apoio do filho, passou a plantar na sua propriedade e, logo depois, começaram a arrendar terras para dar conta da demanda. “Quando ouvia alguém falando de plantios de um milhão de pés em São Paulo, eu achava que era coisa de outro mundo. Hoje, depois de 13 anos que iniciamos nosso plantio próprio, já chegamos a plantar 1,5 milhão de pés por ano. E isso só foi possível graças à ajuda do meu filho”, lembra.

Julimar conta que desde criança lembra-se de seu pai plantando tomate. “Eu cheguei a iniciar uma faculdade, mas desisti e voltei para a propriedade para ajudar meu pai. Em 2005, plantávamos menos de 20 mil plantas por ano, e em poucos anos conseguimos ampliar nossa produção”, contou.

Além da propriedade em Venda Nova do Imigrante, pai e filho arrendam terrenos em Afonso Cláudio, Domingos Martins, Aracruz e até em Mutum, em Minas Gerais. Em cada município eles montam equipes e toda a produção é encaminhada à sede da empresa, em Venda Nova do Imigrante, onde é feita a classificação e o envio para os mercados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.

“No inverno, enviamos também para o Sul do Brasil. Mais de 80% da nossa produção vai para outros estados. Colhemos uma média de 25 mil caixas por mês. Entre funcionários de carteira assinada e parceiros, temos mais de 250 pessoas que atuam com a gente na plantação”, informou Julimar Cesconetto.

IMPORTÂNCIA DO COOPERATIVISMO

especial tomate4Como relatou Julimar Cesconetto, a parceria é fundamental para atingir uma boa produção. A importância da união também é contada por Julimar quando se refere ao cooperativismo. Segundo ele, praticamente 99% do movimento financeiro da empresa é feito pela Cooperativa de Crédito Sicoob. Tarcísio é cooperado desde 2002, e Julimar passou a movimentar as contas a partir de 2009.

“O bom atendimento é o principal fator pela escolha do Sicoob. Temos muitas vantagens, como o acúmulo da conta capital, a divisão dos lucros aos cooperados ao final de cada ano e a facilidade na liberação de financiamentos. É tudo muito menos burocrático. As taxas também são bem atrativas em relação a outros bancos”, enfatizou. Eles também são cooperados da Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi), onde costumam comprar insumos a preços mais atrativos.

HORTIFRUTI NA GRANDE VITÓRIA

especial hortifruti

E também com o apoio do Sicoob, Julimar irá inaugurar, neste mês de novembro, o Hortifruti Cazonetto, em Jardim Camburi, Vitória. Ele contou que o objetivo é levar diretamente ao consumidor final a produção agrícola, oriunda, principalmente, da região de montanhas do Espírito Santo.

“Além da venda de verduras, legumes e frutas fresquinhas, teremos os setores de carne, laticínio, uma adega, uma cafeteria com cafés especiais das montanhas do Estado e até um restaurante com um cardápio bem saudável. E todo esse investimento tem o apoio importante do Sicoob”, enfatizou.

Julimar contou que as obras estão adiantadas, e a inauguração será em novembro. Segundo ele, também haverá um setor com produtos orgânicos, de produtores de Santa Maria de Jetibá. “Queremos oferecer qualidade e preço justo. É mais um sonho sendo realizado”, disse.

Espírito Santo vira referência nacional e internacional

especial tomateDurante o verão, a cultura de tomate se concentra em municípios da região de montanhas, como Venda Nova do Imigrante, Afonso Cláudio, Domingos Martins, Marechal Floriano, Alfredo Chaves, Santa Teresa e outras cidades da região. Já no inverno, os produtores migram para regiões mais quentes, como Castelo, municípios do Norte do Estado e até de Minas Gerais.

De acordo com o pesquisador e doutor em fitopatologia do Incaper, Hélcio Costa, o tomate é uma das principais culturas agrícolas do Estado, devido ao alto custo de produção e pelo volume financeiro movimentado. Além disso, milhares de famílias trabalham com a plantação, o que gera renda a várias regiões do Espírito Santo.

“O custo de produção é muito alto. E isso movimenta o setor agrícola. Sem contar que em períodos de alta do preço, como ocorreu nos primeiros meses de 2019, é muito dinheiro que o setor movimenta. E quando o preço do tomate está alto, os valores das outras culturas também acompanham o aumento”, afirmou Hélcio, que é especialista no Estado em patologias do tomate.

TECNIFICAÇÃO

Hélcio, que acompanha a produção no Estado há muitos anos, conta que os produtores capixabas se destacam em empregarem altas tecnologias nas lavouras de tomate. Seja em equipamentos modernos de classificação dos frutos, seja na forma de produção, com sistemas de irrigação como o gotejamento, a produção do Espírito Santo tem sido exemplo para outros estados.

“Uma comprovação desta tecnificação é que recebemos visitas de estudantes de doutorado e pós-doutorado da Universidade de Viçosa, em Minas Gerais, e estudantes de agronomia de diversas regiões brasileiras. Todos ficam impressionados com as máquinas e as tecnologias empregadas. Até os professores universitários ficam admirados com todo o trabalho feito pelos produtores”, afirmou Hélcio.


“As principais empresas do mundo no setor trazem os técnicos para conhecerem o que tem sido feito aqui”

HÉLCIO COSTA – PESQUISADOR DO INCAPER


Além de estudantes do Brasil, representantes de empresas multinacionais também consideram o Espírito Santo uma referência na produção do fruto. “As principais empresas do mundo no setor trazem os técnicos para conhecerem o que tem sido feito aqui. Sem contar que recebemos constantemente a visita de produtores de outros estados que vêm aprender com nossos agricultores. Isso é muito gratificante, pois eles querem saber o que é feito aqui para conseguirmos alta produtividade e qualidade”, revela o especialista.

Mudas enxertadas são as apostas para combater doenças do tomateiro

De acordo com o pesquisador do Incaper Hélcio Costa, outro destaque nacional do Espírito Santo é com o cultivo de mudas de tomate enxertadas. Essa técnica proporciona plantas mais resistentes a doenças e que têm alcançado altas produções. O principal produtor é Geraldo Gobbi, que concentra sua produção em Afonso Cláudio.

“Na planta de tomate enxertado são usadas duas variedades. A muda é mais cara, pois se usa duas plantas para se produzir uma. Nos últimos seis anos, desde quando foi iniciada a enxertia do Espírito Santo, devem ter sido produzidos mais de 30 milhões de pés. O Estado está dando uma ‘surra’ nesse setor nos demais estados”, destacou Hélcio.

Ele explicou que entre as vantagens está a resistência a doenças. “Temos muitos problemas com fungos de solo. Com a muda enxertada controlamos o fusarium, a nematóide e temos tolerância a outras doenças. Apesar da muda ser mais cara, há inúmeras vantagens”, reforçou Hélcio.

Famílias retomam o plantio com parcerias na venda

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A parceria de empresas com produtores familiares tem feito com que muitas pessoas retomassem o plantio de tomate, como é o caso do agricultor Deolindo Ferreira, 45 anos, de São Bento de Garrafão, Santa Maria de Jetibá. Ele conta que cultivava tomate antigamente, parou e retomou a produção há cerca de seis anos.

“Eu fiquei 18 anos sem produzir tomate. Eu parei porque havia dificuldade para comercializar. Hoje em dia eu planto e vendo direto na propriedade, o que facilita muito. Atualmente, também há variedades mais resistentes a pragas e doenças. E isso ajuda muito”, contou.

Deolindo chegou a produzir 100 mil caixas por ano, com a ajuda da esposa, do genro e de parceiros. “Hoje o tomate é o carro chefe da propriedade. Plantamos durante o ano inteiro, paramos apenas no período de muito frio. A minha produção atende o mercado capixaba e de outros estados. Se não fosse a parceria de venda, não estaria produzindo tomate”, afirmou.

 

Dedicação à lavoura garante maior produção

especial tomate6Nos últimos anos, produtores familiares têm mudado a forma de trabalho com o tomate. Se antes eles produziam e vendiam produção em mercados, atualmente os pequenos agricultores têm dado mais atenção à lavoura, já que a venda da colheita passou a ser feita diretamente na propriedade, sem a necessidade do deslocamento até a Ceasa ou a outros centros de venda.

Um dos exemplos é Jorge Huber, de Santa Maria, em Marechal Floriano, que produz tomate há 19 anos. Ele conta que, antigamente, cuidava da lavoura, colhia os frutos e, pelo menos duas vezes por semana, levava a sua produção para a comercialização. Nos últimos anos, ele tem entregado a colheita na sua propriedade, garantindo mais tempo para se dedicar à lavoura.

“No início, eu plantava, colhia e fazia a venda diretamente na Ceasa. A vantagem de vender a produção em mercados é que garantimos o preço de mercado. Mas, vender diretamente na propriedade me dá mais tempo para eu cuidar da lavoura e conseguir uma maior produção. Dois dias por semana que eu deixo de me dedicar ao plantio faz toda a diferença”, contou.

E ele garante que não vai mudar a forma de comercialização de sua produção. “Essa parceria é muito importante. Mesmo recebendo um pouco abaixo do mercado, eu tenho a garantia de receber pela minha produção, não tenho o trabalho de fazer a seleção dos frutos e não preciso deixar a minha lavoura para vender”, destaca. 


“Podemos estar 30 anos plantando tomate, mas trocando experiências sempre aprendemos mais e ficamos cada vez mais especialistas”

JORGE HUBER – PRODUTOR RURAL


Com a experiência adquirida com o passar dos anos, o produtor passou a orientar outros agricultores que plantam tomate. “Muitas pessoas me ligam pedindo dicas. Nada melhor que os técnicos para acompanhar, mas a experiência da prática é muito importante. Podemos estar 30 anos plantando tomate, mas trocando experiências sempre aprendemos mais e ficamos cada vez mais especialistas”, afirma.

Um fator importante apontado por Jorge é apostar em uma variedade que dê um bom resultado. Ele destacou que testa novas variedades, mas em uma pequena área como experimento. “Também é importante anotar todos os produtos usados na lavoura, para não repetir defensivo sem necessidade e também não deixar de usar aquele que é preciso. E o importante é sempre respeitar a carência de cada defensivo antes da colheita”, lembrou.

Coopeavi é o braço direito do produtor

Seja para pequenos, médios ou grandes produtores de tomate, a Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi) tem sido um auxílio importante para cerca de 350 produtores, principalmente dos municípios de Venda Nova do Imigrante, Santa Teresa e Afonso Cláudio.

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Além de orientar na escolha da melhor semente, no preparado do solo, no controle de pragas e doenças e na recomendação da adubação, a Coopeavi fornece todo o acompanhamento de técnicos no campo a seus cooperados. De acordo com o engenheiro agrônomo Antônio Marcos da Silva, que é analista de desenvolvimento de produtos da cooperativa, há produtores assistidos pela Coopeavi que cultivam mil plantas por ano, até quem planta 3,5 milhões de pés.

“A cultura do tomate oferece a vantagem de ter o ciclo mais curto, o que confere retorno mais rápido quando comparado às culturas perenes. Os produtores passaram por vários anos recebendo baixos preços pela mercadoria. No início deste ano, os valores estavam ótimos, atualmente o preço caiu muito novamente. Apesar das variações, o tomate é uma das três culturas mais representativas para cooperativa”, informou.

O produtor rural Vitorino Belon, de São Paulo de Aracê, em Domingos Martins, que planta entre 300 e 400 mil pés de tomate por ano, é cooperado e disse que a compra de insumos diretamente nas lojas da Coopeavi é uma das vantagens. “Na maioria das vezes, os valores dos produtos que precisamos para a lavoura é bem melhor nas lojas da cooperativa, em relação a outras lojas”, disse.


“Além de comprar todos os insumos a um valor menor em relação a qualquer outra loja, temos acompanhamento técnico das nossas lavouras”

GILDÁSIO GUEDES – PRODUTOR RURAL


Essa também é a afirmação do agricultor Gildásio Guedes, 39, do município de Linhares, no Norte do Estado, que também é cooperado. Ele contou que sempre plantou tomate, seguindo uma tradição da família. Ele cultiva cerca de 100 mil mudas por ano.

“Além de comprar todos os insumos a um valor menor em relação a qualquer outra loja, temos acompanhamento técnico das nossas lavouras. Isso é muito importante para conseguirmos uma boa produtividade”, destacou.

Preço do tomate deve melhorar no verão

O tomate é considerado uma cultura que pode proporcionar altos ganhos aos produtores, mas também pode endividar muita gente, já que se o preço do tomate estiver baixo no momento da colheita, o prejuízo é certo. Devido ao alto custo de produção, os riscos são muitos em cada plantio.

Nos primeiros meses de 2019, os produtores tiveram motivos para comemorar. No mercado da Central de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa/ES), o tomate apresentou aumento de 225% no preço, e estava sendo vendido a R$ 6,50 o quilo. O valor era ainda mais alto nos supermercados e feiras do Estado, já que na Ceasa as vendas são feitas por atacado pelos produtores rurais. Em alguns estabelecimentos, o tomate estava sendo vendido a R$ 10,90 no mês de abril.

especial tomate

De acordo com o diretor-presidente da Ceasa/ES, Carlos Roberto Rafael, o que o clima impactou no aumento dos preços, além do desestímulo do cultivo de alguns alimentos. “O verão com dias muito quentes e dias chuvosos acaba gerando perdas nas lavouras. Outro fator dominante na mudança climática é o aumento de proliferação de pragas. Também notamos a diminuição no plantio de algumas culturas, como o tomate. Isso se deu por conta do preço baixo que foi vendido nos últimos dois anos. E, quando a oferta é menor, o preço tende a ficar mais alto”, salienta Rafael.

E o fruto apresentou instabilidade no preço durante todo o ano. Em julho, por exemplo, o quilo do tomate custava R$ 3,29, praticamente a metade do valor comercializado no início do ano. Entretanto, neste mês de outubro o quilo do tomate se aproximou de R$ 1,00, o que está levando produtores até a descartarem a produção.

Segundo o engenheiro agrônomo Antônio Marcos da Silva, que atua na Coopeavi, com aumento da temperatura, os tomates amadurecem mais rápido, o que ocasiona excesso de oferta concentrada em curto período, isso leva a queda de preços.

O produtor Jorge Huber, de Marechal Floriano, disse que está se preparando para o plantio neste mês de novembro. “No início do ano os valores normalmente são melhores. Estou me preparando para o plantio. Infelizmente, nos últimos dias os preços não estão compensando e muitas lavouras estão sendo abandonadas”, informou.

O agricultor Gildásio Guedes, de Linhares, contou que deixou de colher cerca de três mil caixas nos últimos dias, pois o preço não está compensando. “Abandonei a lavoura e não irei mais colher”, disse. Já Vitorino Belon, de Domingos Martins, afirmou que continua colhendo. “Apesar de estar conseguindo vender a um preço muito baixo, estou conseguindo mercado devido à boa qualidade dos frutos, mas esse é o período com os menores preços do ano”, afirmou.

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