Combate ao tráfico dispara: 20 pessoas são presas em Marechal Floriano e Domingos Martins
Publicado em 11/09/2025 às 14:35
Texto: Bruno Caetano / Fotos: Policia Civil
Cerca de 20 pessoas foram presas em operações integradas de combate ao tráfico de drogas da Polícia Civil e Militar em Marechal Floriano e Domingos Martins. Entre os detidos estão os principais fornecedores que atuavam nos centros das cidades e em bairros como Melgaço e Perobas.
As prisões, que ocorreram no mês de agosto, além do aumento das apreensões de drogas, revela uma nova realidade para moradores e autoridades locais: o tráfico avançou para além da Grande Vitória e não dá sinais de recuo.
Expansão do tráfico para o interior
Especialistas afirmam que essa expansão faz parte de um plano de organizações criminosas vindas da Grande Vitória em busca de novos mercados. Dados oficiais do Observatório de Segurança Pública do ES mostram um aumento expressivo nas apreensões de drogas na região serrana do Espírito Santo.

Em Marechal Floriano, os registros passaram de 24 ocorrências em 2022 para 76 em 2024, o que representa um crescimento de aproximadamente 217%. Já em Domingos Martins, o número subiu de 25 para 81 no mesmo período, um aumento de 224%.
Os números de 2025, até meados do ano, indicam que a tendência de alta continua. Em Domingos Martins, foram contabilizadas 51 ocorrências, equivalente a 63% do total de 2024 e mais de duas vezes o total de 2022.

O delegado titular da Polícia Civil dos dois municípios, Luciano Carlos Paulino de Oliveira explica que a expansão para o interior está ligada à busca de áreas com menor concorrência e maior lucratividade. “Na Grande Vitória, a concorrência é alta e o lucro menor. Aqui, traficantes encontram oportunidades em áreas menos disputadas, podendo expandir seus territórios e aumentar os ganhos”, afirma.
Segundo ele, essa dinâmica dificulta prisões em flagrante, já que os traficantes compram drogas em pequenos volumes e tentam se passar por usuários quando abordados. No entanto, o trabalho investigativo permite identificar toda a rede e realizar prisões preventivas, desarticulando as organizações antes que dominem territórios.
“Os traficantes compram entorpecentes na Grande Vitória e revendem aqui com lucro até dez vezes maior. Para eles, o risco da viagem vale a pena”
Delegado Luciano Carlos Paulino
Impacto na rotina das cidades

Além do crescimento, a análise dos registros revela padrões estratégicos de atuação do tráfico. Em Marechal Floriano e Domingos Martins, a maior movimentação ocorre às sextas-feiras à noite, com 40 apreensões em Marechal Floriano e 42 em Domingos Martins, seguidas de quintas e sábados, no horário crítico das 18h às 23h, coincidindo com bares, restaurantes e centros comerciais.
O aumento de turistas e moradores durante os períodos de férias escolares também favorece a atuação dos traficantes, que aproveitam esses momentos para ampliar vendas e consolidar presença nos pontos mais movimentados das cidades.

O Mestre e especialista em Segurança Pública Rusley Medeiros observa que as cidades do interior do Espírito Santo, embora ainda apresentem números reduzidos de criminalidade, têm enfrentado um crescimento significativo do tráfico de drogas.
Segundo ele, a migração de grupos criminosos para essas regiões é motivada por fatores como menor presença policial, aumento populacional e, principalmente, a busca por novos mercados. “Não significa que o tráfico não existisse nessas cidades, mas, agora, ele ocupa um lugar mais expressivo no faturamento das organizações criminosas, o que demanda maior controle e definição de território”, explica Rusley.
O especialista alerta ainda que a partir disso, surge o fenômeno conhecido como “novo cangaço”, caracterizado por crimes violentos e assaltos a bancos locais. “Infelizmente, as cidades do interior não estão mais imunes à violência das metrópoles”, afirma.
Ele ressalta que a presença de grupos criminosos transforma a lógica de cidades antes pacatas, criando áreas dominadas pelo tráfico, expondo a população à violência e aumentando a possibilidade de conflitos entre criminosos ou com as forças de segurança. “O impacto social em cidades menores é maior, pois qualquer crime violento destrói a sensação de segurança característica dessas regiões”, destaca.
Rusley acrescenta que, diante desse cenário, a população precisa estar atenta e colaborativa com as autoridades. “É fundamental que moradores denunciem atividades suspeitas, participem de programas de prevenção e reforcem a vigilância comunitária. A segurança não depende apenas da polícia, mas de uma ação conjunta entre autoridades e cidadãos”, conclui.

Trabalho integrado das forças de segurança
Para conter essa expansão, a polícia atua na fiscalização de estabelecimentos comerciais e na organização urbana, evitando que bares e espaços públicos favoreçam a venda de drogas. “Nosso objetivo é impedir que o tráfico conquiste territórios. Não podemos esperar que o crime se instale para então agir. A prevenção e o trabalho integrado são fundamentais”, reforça o delegado.
As operações incluem monitoramento constante, trabalho de inteligência e investigação aprofundada, permitindo identificar redes inteiras de tráfico, mesmo quando apenas pequenas quantidades de drogas são apreendidas. Esse esforço conjunto entre Polícia Civil, Polícia Militar e fiscalização municipal tem sido crucial para limitar a expansão do crime na região.
Para isso, as ações têm se concentrado nos centros das cidades e em bairros estratégicos. Em Melgaço, Domingos Martins, foi preso o principal traficante local, que já havia cooptado outras pessoas para trabalhar em sua rede. Em Perobas, no mesmo município, três traficantes foram detidos por abastecerem o fornecedor que atua na comunidade.

Na sede do município, em apenas um dia, seis traficantes foram presos, a maior parte frequentava bares e distribuidoras de bebidas para vender os entorpecentes. Os locais foram proibidos de colocar mesas nas calçadas para evitar aglomeração.
Já no bairro Santa Rita, em Marechal Floriano, dois primos foram presos acusados de tráfico de drogas. Eles haviam sido presos em julho, mas foram soltos para responder pelos crimes em liberdade. Após investigações, eles foram presos novamente. “As prisões foram acompanhadas de fartas provas que comprovam a associação dos primos para o tráfico”, destacou o delegado.
O delegado detalha que as operações não se restringem às prisões em flagrante. “Quando prendemos alguém, aprofundamos a investigação para identificar toda a rede envolvida. Esse trabalho investigativo, aliado à inteligência da Polícia Militar, nos permite realizar prisões preventivas e desarticular organizações criminosas antes que dominem territórios”, conclui.