Com tarifaço, desafio de exportadores é encontrar novos mercados

Publicado em 07/08/2025 às 08:45

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Foto: Freepik

O impacto do aumento das tarifas de importação nos Estados Unidos, que começou a valer nesta quarta-feira (6), ainda está sendo dimensionado, mas já provoca incertezas entre empresários e trabalhadores que atuam nos mais de três mil itens brasileiros que serão sobretaxados.
Diante do novo cenário, estratégias emergenciais como aceleração de embarques, gestão de estoques e até redução da produção já estão em curso. No entanto, especialistas e autoridades do setor produtivo apontam que a saída mais sólida a médio e longo prazo é a busca por novos mercados internacionais. Esse processo, contudo, exige preparo técnico, certificações específicas e adaptação cultural.
Apoio público e novas rotas
Para dar suporte às empresas afetadas, um ecossistema público-privado está em ação. Entre os principais agentes estão os ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), da Agricultura e Pecuária (Mapa), a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o Sebrae, associações comerciais e entidades de fomento ao comércio exterior.
Em coletiva nesta quarta, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, afirmou que a agência já apoia 2,6 mil das 9 mil empresas brasileiras que exportam para os EUA. Segundo ele, “não há volta” e será necessário mudar rotas de exportação.
“Setores como o dos produtores de mel precisam de apoio urgente, já que os Estados Unidos são o único destino dessas exportações. Vamos incluí-los em todas as políticas de apoio”, declarou.
Segundo Viana, o governo federal deverá anunciar medidas emergenciais em breve, semelhantes às adotadas após as enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024. Entre as iniciativas previstas está a abertura de um escritório da Apex em Washington para negociar diretamente com o governo norte-americano. A ação complementa o trabalho da diplomacia e da pressão das próprias empresas locais.
“Essa tarifa de 50% não tem motivação comercial, mas política. Esperamos que o impacto no bolso do consumidor americano ajude a abrir novas negociações. Enquanto isso, a Apex vai intensificar a diversificação de mercados e fornecedores para as empresas brasileiras”, disse.
Números do comércio exterior
Entre janeiro e março deste ano, o Brasil exportou US$ 77,3 bilhões, uma leve queda em relação aos US$ 77,7 bilhões registrados no mesmo período de 2024. O superávit comercial foi de US$ 10 bilhões, com destaque para bens industrializados, como máquinas e aparelhos elétricos.
Os principais destinos das exportações brasileiras no período foram:
• China: US$ 19,8 bilhões
• União Europeia: US$ 11,1 bilhões
• Estados Unidos: US$ 9,7 bilhões
• Mercosul: US$ 5,8 bilhões (com destaque para a Argentina, que teve crescimento de 51%)
Diplomacia em foco
Apesar do endurecimento comercial, o governo brasileiro ainda vê espaço para o diálogo diplomático. Na semana passada, os EUA retiraram cerca de 700 produtos da lista de tarifação — um sinal de abertura para negociação.
“A flexibilização das tarifas é um passo positivo. O Brasil deve aproveitar para diversificar suas exportações e reduzir a dependência dos EUA”, avaliou o advogado Raphael Jadão, especialista em disputas comerciais internacionais.
Dependência e riscos
Atualmente, cerca de 50% das exportações brasileiras estão concentradas em cinco países (China, EUA, Argentina, Holanda e Espanha). Só os Estados Unidos respondem por 12% do total exportado.
“Esse é um sinal de alerta. Se hoje temos problema com os EUA, amanhã pode ser com a China. E não se encontra substituto para grandes compradores do dia para a noite”, observou Bruno Meurer, diretor da empresa de logística Next Shipping.
Ele destacou o exemplo das exportações de carne bovina, que ficaram de fora da isenção norte-americana e agora terão tarifa total de 50%. “As empresas que exportam carne não vão conseguir redirecionar esse volume para outro país tão rapidamente”, alertou.
Novos mercados e exigências
A busca por alternativas impõe um caminho complexo. Além de conhecer a demanda internacional, é necessário cumprir uma série de exigências burocráticas, sanitárias e culturais dos países importadores.
De forma geral, o processo envolve: negociação comercial, emissão de fatura e packing list, contratação de frete, registro no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), fiscalização alfandegária e recolhimento de taxas. Produtos como medicamentos exigem anuência de órgãos específicos e podem demorar mais para liberação. Já itens como roupas têm trâmite mais ágil.
A adaptação aos mercados também passa por especificidades culturais. O Brasil, por exemplo, é um dos maiores exportadores de aves para países muçulmanos, após mais de uma década de adequações às exigências da certificação Halal.
“Exportar para o Oriente Médio exige rótulo em árabe, cortes específicos e embalagens diferenciadas. Cada mercado tem suas exigências, e isso requer planejamento logístico e comercial”, explica Stefânia Ladeira, gerente da Saygo Comex.
Segundo ela, o setor de pescados também pode mirar novos mercados, como América do Sul e Europa, embora a Ásia apresente desafios maiores de penetração.
Acordos comerciais
Os acordos de comércio internacional são fundamentais nesse contexto. Nos últimos anos, o Brasil firmou ou ampliou parcerias com China, Japão, países da África, Oceania e América Central. Com esses acordos, há redução mútua de tarifas — embora os procedimentos alfandegários variem conforme o país.
“Na União Europeia, por exemplo, os procedimentos são unificados. Já em outros blocos, cada país define como o produto deve ser registrado e tratado na alfândega”, explica Diego Joaquim, especialista em direito aduaneiro.


Fonte: Guilherme Jeronymo – Repórter da Agência Brasil

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