Pode isso, minha gente?

Publicado em 17/04/2017 às 18:23

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Durante todos esses anos em que me aventuro pela Literatura, aprendi que o grande segredo não está em o que se contar, mas como se contar. “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert, não passa de um livro sobre as aventuras de uma mulher adúltera. William Shakespeare escreveu várias de suas peças em cima de lendas há muito conhecidas do povo europeu de sua época. Mas, indubitavelmente, a história mais conhecida da humanidade, contada de diversas maneiras, é a de Jesus Cristo.

Você pode ser cristão, muçulmano, ateu ou o escambau. O enredo está na ponta da língua: um jovem rapaz de 33 anos, que se diz filho de Deus, é crucificado, morto e sepultado, ressuscitando três dias após seu assassinato, levado a cabo com requintes de crueldade. Em suma, é esse o enredo da “Paixão de Cristo”, anunciada, dois mil anos depois, com tanta cerimônia. “Paixão”, aqui, é vista como “sofrimento”, algo muito próximo do pathos, palavra grega de origem. Quanto ao enredo, dizem que uma boa história se resume a menos de uma linha. Religioso ou não, você há de convir que a de Cristo atende ao requisito.

Já assisti a muitas montagens da “Paixão de Cristo”. Mas, certamente, não vi nem a metade do que já foi produzido no Planeta. Desde os primórdios, o cinema toca no assunto. O mais interessante é que, justamente no início da Sétima Arte, o respeito (ou seria medo?) em se retratar Jesus era tamanho que Ele não aparecia no filme. Isso mesmo: Cristo era um personagem “por trás da câmera”, o que obrigava aos atores furarem a “quarta parede”, ou seja, olhar para o espectador, como se o Filho de Deus estivesse no meio de nós. E, quem sabe, a ideia não fosse mesmo essa, não é?

Mas, com certeza, o maior de todos os filmes já produzidos sobre o assunto foi “Jesus de Nazaré”, de Franco Zeffirelli. Lançado em 1977 e rodado na Etiópia, a superprodução conta com uma curiosidade: Robert Powell, ator principal, teria sido escalado para o papel de Judas. O de Cristo seria de Dustin Hoffmann ou de Al Pacino. Tentando se proteger do sol escaldante, Powell botou uma túnica na cabeça. Zeffirelli não teve dúvidas: “seu” Jesus estava ali na frente! O filme fez tanto sucesso que, até hoje, a imagem de Cristo, no cinema, se confunde com a de Powell. O ator precisou até de ajuda psicológica, pois começou a se achar o próprio Jesus. Afinal, não deveria ser mesmo fácil entrar em tantas igrejas e ver seu rosto virar objeto de culto!

O tema da “Paixão” também rende histórias, no mínimo, inusitadas! Minha saudosa amiga, a escritora Telma Maria Azevedo, conta que, quando apresentadora de uma rádio em Erechim/RS, era de lei a exibição de um especial temático, que se resumia a dois bolachões, tocados todos os anos, infalivelmente. Um ia do nascimento de Cristo até as últimas pregações. O outro, do beijo de Judas até a Ressurreição. Um belo dia, a pessoa encarregada em tocar os discos faltou e um colega teve de cobri-lo. Ao final do primeiro álbum, a “pérola”: “E então? Judas trairá Jesus? Jesus morrerá na cruz? Não perca essas e outras emoções em… ‘A Paixão de Cristo’!”

Pérola maior, entretanto, foi esta: um amigo da família, muitas décadas atrás, quando ainda jovem, levava sua avó, todos os anos, para assistir a “Paixão de Cristo” no cinema, única diversão dominical em uma cidade no interior do Espírito Santo. A velhinha, contrita, chorava, chorava e chorava durante a exibição do longa, o que o obrigava a arrumar, de improviso, um lencinho, para enxugar-lhe as lágrimas. Durante determinado ano, porém, ele foi prevenido, já colocando um lenço no bolso. Estranhamente, a velha começou a rir. Espantado, ele perguntou: “Mas vovó, a senhora não sempre chorava durante o filme?” No que ela respondeu, de bate-pronto: “Ah, meu filho! Todo ano eu venho ver esse cara e é a mesma coisa. Ele apanha, morre e não faz nada”. Pode isso, minha gente?

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