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Autismo: um modo próprio de perceber, aprender e se relacionar com o mundo

Publicado em 17/12/2025 às 08:22

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A OMS e órgãos de saúde pública afirmam que o autismo acompanha a pessoa por toda a vida e que as políticas devem priorizar apoio, inclusão e direitos, não a ideia de “cura”.

Foto: Freepik

O autismo é reconhecido hoje pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por diretrizes clínicas internacionais como uma condição do neurodesenvolvimento, que faz com que o cérebro processe informações sociais, sensoriais e cognitivas de maneira diferente ao longo de toda a vida. Essas diferenças podem impactar a forma de se comunicar, aprender, criar vínculos e reagir ao ambiente, mas não diminuem o valor, a sensibilidade, o potencial ou os direitos de quem é autista.

O que é o autismo

A OMS define o autismo (ou transtornos do espectro do autismo) como um grupo diverso de condições relacionadas ao desenvolvimento cerebral, caracterizadas por algum grau de dificuldade na interação social e na comunicação, além de padrões atípicos de comportamento, atividades ou interesses. Essas características costumam aparecer na infância, mas muitas pessoas só recebem diagnóstico na adolescência ou na vida adulta, especialmente em contextos onde o acesso à avaliação é limitado.

Do ponto de vista diagnóstico, manuais como o DSM‑5‑TR descrevem o autismo a partir de dois grandes domínios: dificuldades persistentes na comunicação e interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, incluindo diferenças na forma de perceber estímulos sensoriais. Isso significa que não se trata de um “problema de comportamento isolado”, mas de um modo particular e consistente de funcionamento do cérebro e do desenvolvimento.

Diferenças no cérebro e na percepção

Evidências neurocientíficas mostram que o autismo está associado a diferenças na conectividade e organização de redes cerebrais envolvidas em linguagem, interação social, atenção e processamento sensorial, e não a uma “lesão” ou dano localizado. Estudos de imagem e genética indicam que se trata de uma condição altamente heritável, com múltiplos genes e fatores ambientais interagindo, reforçando a compreensão de que o autismo é uma forma diversa de neurodesenvolvimento, e não resultado de falhas de criação, traumas isolados ou “falta de limites”.

Na prática, muitas pessoas autistas apresentam padrões específicos de resposta aos estímulos sensoriais, como sons, luzes, texturas e cheiros. Pesquisas descrevem três grandes perfis sensoriais frequentes: hiporresponsividade (responder pouco), hiperresponsividade (responder demais) e busca sensorial intensa, o que ajuda a explicar reações consideradas “diferentes” no cotidiano, como uso de abafadores de ouvido, preferência por roupas específicas ou movimentos repetitivos que regulam o corpo.

Comunicação, interação e aprendizagem

As diferenças de funcionamento cerebral se refletem na forma de conversar, se expressar e aprender. Algumas pessoas autistas podem ter atraso ou ausência de fala oral, outras falam fluentemente, mas têm dificuldade com pistas sociais implícitas, ironias ou conversas de “small talk”; em todos os casos, recursos como comunicação alternativa, suportes visuais e ajustes no ambiente podem ampliar bastante a participação.

Na interação social, não se trata de “falta de interesse pelas pessoas”, mas de uma forma distinta de perceber normas sociais, ler expressões faciais ou sustentar o contato visual, o que pode tornar encontros sociais cansativos ou confusos. No campo da aprendizagem, muitas pessoas autistas apresentam perfis cognitivos desiguais, com áreas de grande habilidade (como memória para detalhes, interesses específicos ou pensamento visual) coexistindo com dificuldades em organização, flexibilidade ou planejamento, o que exige abordagens educacionais individualizadas.

Identidade, direitos e dignidade

Tanto a OMS quanto órgãos de saúde pública enfatizam que o autismo é uma condição que acompanha a pessoa ao longo da vida, e que o foco das políticas deve ser garantir apoio, inclusão e respeito aos direitos humanos, não buscar “cura” ou apagar características autistas. Esse entendimento se alinha à perspectiva do movimento da neurodiversidade, que enxerga o autismo como uma variação legítima da experiência humana, em que diferenças de percepção, interação e processamento fazem parte da identidade da pessoa.

No Brasil, dados recentes do Censo 2022 indicam 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de autismo, reforçando a importância de políticas educacionais, de saúde e de trabalho que considerem essas especificidades e combatam o estigma. Reconhecer o autismo como um modo próprio de estar no mundo implica compreender que adaptações, acessibilidade e acolhimento não são “favores”, mas condições básicas para que cada pessoa possa expressar sua sensibilidade, sua força e seu valor em plenitude.

Marcel Andrade Carone – Jornalista, apresentador de TV, empresário,empreendedor social comprometido com a inclusão, embaixador da Vitória Down, idealizador da “Brigada 21” e do “Pelotão 21”.
É diplomado pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e comendador do 38° Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro.

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