Médica alerta sobre os riscos do uso irregular de remédios injetáveis para emagrecer
Publicado em 31/10/2025 às 09:51
Texto: Bruno Caetano / Fotos: Arquivo Pessoal
A promessa de emagrecimento rápido com o uso de medicamentos injetáveis tem se espalhado pelas Montanhas Capixabas, atraindo cada vez mais pessoas interessadas em perder peso de forma acelerada. A tendência, que começou nas grandes capitais, agora alcança cidades como Domingos Martins, Marechal Floriano e Venda Nova do Imigrante.
Com nomes comerciais variados e resultados que viralizam nas redes sociais, esses medicamentos, originalmente desenvolvidos para o tratamento do diabetes tipo 2, ganharam fama por promoverem uma expressiva redução de peso em pouco tempo. Mas, junto com o entusiasmo, vêm também os riscos associados ao uso sem acompanhamento médico e à compra de produtos de origem duvidosa.
A médica da Dokter Clín, Dra. Camila Pin Callegari de Paiva Fialho, especialista em Medicina de Família e Nutrologia, acompanha há anos pacientes com foco em metabolismo, obesidade e longevidade e explica a procura por medicamentos injetáveis usados para emagrecimento.
“Mais do que emagrecer, é preciso aprender a cuidar do corpo com responsabilidade. Porque saúde não se compra, se constrói”
Segundo a médica, o interesse é compreensível, já que os medicamentos atuam em hormônios que controlam o apetite e o metabolismo, promovendo perda de peso significativa. “Eles agem em receptores hormonais responsáveis por regular a glicose, a fome e o gasto energético. Por isso, o resultado pode ser rápido e consistente. Mas é fundamental que o uso seja feito com acompanhamento médico, exames e ajustes de dose ao longo do tratamento”, explica.

Apesar do potencial terapêutico, a especialista alerta para o uso sem supervisão. “Muitas pessoas estão aplicando essas substâncias por conta própria ou em clínicas sem estrutura adequada. Em alguns casos, os produtos sequer possuem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Isso é extremamente perigoso e pode gerar complicações metabólicas graves, infecções e até reações adversas que colocam a vida em risco”, alerta a médica.
De acordo com Camila, o uso seguro exige avaliação médica completa, exames laboratoriais e definição da dose ideal para cada paciente. “O acompanhamento contínuo é essencial para garantir que o medicamento esteja sendo bem tolerado e realmente traga benefícios à saúde”, destaca.
Riscos do uso sem supervisão médica
Nas redes sociais, no entanto, o discurso é bem diferente. Vídeos curtos e postagens de influenciadores digitais têm popularizado os injetáveis como se fossem soluções mágicas. “Há uma banalização muito perigosa. Muita gente compra ampolas pela internet ou em farmácias sem procedência, e aplica o produto em casa, sem qualquer tipo de supervisão. Isso é uma prática ilegal e antiética”, afirma a Dra. Camila.
A venda de medicamentos sem registro da Anvisa é crime previsto na Lei nº 6.360/76 e representa risco direto à saúde pública. “Esses produtos podem conter substâncias adulteradas, doses erradas ou até contaminantes. Já tivemos relatos de complicações sérias causadas por produtos falsificados”, relata.
Outro problema é o uso exclusivamente estético, sem indicação médica real. “Esses medicamentos foram criados para tratar doenças metabólicas e resistência à insulina, não para atender modismos de beleza. Quando utilizados apenas para emagrecer rapidamente, sem avaliação do metabolismo, o paciente corre o risco de desregular o corpo, perder massa magra e prejudicar o equilíbrio hormonal”, afirma.
A médica reforça que as aplicações devem ser realizadas exclusivamente em clínicas que possuam estrutura adequada para atendimento de emergências e tenha farmacêutico responsável em seu quadro profissional, em razão de se tratarem de medicamentos de uso controlado. “Isso garante que o produto seja autêntico e que qualquer reação adversa possa ser prontamente atendida”, destaca.
ACOMPANHAMENTO – Ela também defende o acompanhamento multiprofissional. “O medicamento, por si só, não faz milagres. O plano precisa envolver médico, nutricionista e educador físico. Só assim o emagrecimento vem com a preservação da massa magra e ganho real de saúde”, enfatiza.
Quando bem indicados, esses tratamentos podem transformar vidas. “Há melhora da glicemia, redução do colesterol, proteção cardiovascular e até benefícios neurológicos. Mas o segredo está na personalização e na constância do cuidado”, afirma.
O uso de substâncias importadas sem controle sanitário também preocupa. “Medicamentos sem rastreabilidade não têm garantia de composição. O problema não está na origem, mas na ausência de controle técnico. O risco é altíssimo”, alerta.
Para a Dra. Camila, os medicamentos injetáveis representam um avanço inegável na medicina metabólica. “Estamos vivendo uma revolução na forma de tratar a obesidade e o metabolismo. Mas todo avanço exige responsabilidade. O medicamento é uma ferramenta, não um atalho”, conclui.