MSF denuncia mortes e violência em locais de distribuição de alimentos em Gaza
Publicado em 07/08/2025 às 10:28
Foto: Freepik
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou, em novo relatório, a atuação da Fundação Humanitária de Gaza (GHF) e de forças israelenses e seguranças privados norte-americanos em locais de distribuição de alimentos no Sul da Faixa de Gaza. Segundo a entidade, civis têm sido vítimas de violência deliberada, inclusive com mortes, ferimentos à bala e tumultos durante a busca por alimentos.
O relatório, intitulado “Não é ajuda, é um massacre orquestrado”, foi produzido com base em dados clínicos e relatos de pacientes e profissionais de saúde de duas clínicas administradas pela organização em Al-Mawasi e Al-Attar. Entre 7 de junho e 24 de julho, foram atendidas 1.380 vítimas, incluindo 28 mortos. Quase 200 apresentavam ferimentos por tumulto, e mais de 70 crianças foram baleadas, algumas com menos de 15 anos.
“Acreditamos que os centros da GHF, apresentados como pontos de ajuda humanitária, tornaram-se verdadeiras armadilhas letais”, afirmou Raquel Ayora, diretora-geral da MSF. Ela relata que muitas das vítimas chegam com ferimentos de alta precisão em áreas letais, como cabeça, tórax e abdômen, o que, segundo a análise da organização, sugere ataques intencionais.
Os quatro centros da GHF operam sob controle militar de Israel e são protegidos por seguranças privados armados. A fundação assumiu o papel de distribuidora de ajuda após o desmonte da operação humanitária coordenada pela ONU, em maio. O documento pede a suspensão imediata das atividades da GHF e a retomada da entrega de ajuda sob supervisão da ONU.
Além dos tiros, vítimas relatam sufocamentos, pisoteamentos e agressões nas filas. “Tivemos que criar a sigla BBO – Beaten By Others –, para registrar pacientes espancados ou roubados após receberem comida”, relatou a equipe médica.
O relatório também cita o caso de Mahmoud Jamal Al-Attar, de 15 anos, baleado no peito em 1º de agosto enquanto tentava acessar um dos centros da GHF, no mesmo dia em que o enviado especial dos EUA visitava o local.
“Apesar das evidências, a hesitação da comunidade internacional em interromper as operações da GHF é desconcertante”, disse Aitor Zabalgogeazkoa, coordenador de emergências da MSF em Gaza. “Não há como descrever o assassinato de crianças senão como intencional.”