Atraso na colheita de café do Brasil impacta embarques da nova safra
Publicado em 25/06/2022 às 06:05
Foto: Freepik
A colheita de café do Brasil na safra 2022/23 atingiu 35% do total estimado até o dia 21 de junho, apresentando um atraso em relação à média histórica para a época. Esse atraso pode afetar o ritmo das exportações brasileiras nos primeiros meses da nova temporada, conforme apontou a consultoria Safras & Mercado nesta quinta-feira (23).
De acordo com a consultoria, o atraso na colheita se deve à maturação irregular, à falta de mão de obra e a uma produção maior do que a do ano passado. Em 2021, o maior produtor e exportador mundial de café havia colhido cerca de 40% da safra até a mesma data, enquanto a média histórica dos últimos cinco anos é de 44%.
A colheita avançou sete pontos percentuais em comparação com a semana anterior, conforme os dados da Safras, mas esse progresso ainda não foi suficiente para compensar o atraso, o que mantém os preços elevados para embarques imediatos e pode restringir o escoamento do produto.
Gil Barabach, consultor da Safras, comentou à Reuters que “esse atraso já tem uma implicação de curto prazo, com preços mais altos, especialmente para cafés do grupo 1 de exportação, como bebida boa, bebida fina e cerejas, que estão valorizados nos embarques imediatos, devido ao atraso na colheita”. A saca de 60 kg de café bebida dura para melhor, negociada em São Paulo, registra uma alta de 9% no acumulado do mês, cotada a R$ 1.388,80, de acordo com o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Embora o atraso nos embarques possa impactar os primeiros meses da exportação, Barabach acredita que, se o ritmo da colheita melhorar nas próximas semanas, o efeito negativo do atraso poderá ser amenizado.
Até o dia 22 de junho, os embarques de café do Brasil somaram 1,156 milhão de sacas, um aumento em relação às 859,5 mil sacas enviadas até a mesma data do mês anterior, conforme dados da autoridade aduaneira brasileira compilados pelo Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé).
A consultoria Safras também mencionou a redução na oferta de café da Colômbia, o que tem sustentado o mercado no curto prazo, além dos estoques de café certificados na bolsa de Nova York estarem nos menores níveis em 22 anos.
“Muito disso se deve à menor produção na Colômbia e à busca por alternativas externas, somado ao atraso nos embarques do Brasil, criando esse ambiente”, afirmou o consultor, acrescentando que uma postura mais proativa dos produtores poderia ajudar a melhorar a oferta. “O produtor está retendo o café, apostando na alta dos preços no curto prazo, o que contribui para o fluxo mais restrito no início da safra”, destacou.
ARÁBICA E CONILON – A consultoria Safras informou que o atraso na colheita se deve à maturação irregular, à falta de mão de obra, especialmente para o café conilon, e a um volume maior de produção em relação ao ano passado.
Em termos de volumes colhidos, a Safras estima que foram recolhidas mais de 21 milhões de sacas até o dia 21 de junho, com base na previsão de produção total de 61,1 milhões de sacas de 60 quilos.
A colheita de grãos arábica, que representa a maior parte da produção brasileira, atingiu 26% da previsão, ligeiramente abaixo dos 27% do ano passado, e bem abaixo da média de 35% registrada nos últimos cinco anos para o período.
No dia anterior, a Cooxupé, a maior cooperativa de café do Brasil, que opera exclusivamente com arábica nas regiões Sul e Cerrado de Minas Gerais e parte de São Paulo, divulgou que o ritmo da colheita neste ano é o mais lento desde 2018 para esta época.
A colheita de grãos conilon/robusta, por sua vez, atingiu 50% da previsão, ainda abaixo dos 63% registrados no ano passado e dos 66% da média do período entre 2017 e 2021, conforme a consultoria.