No Dia Nacional da Cachaça, premiado alambique capixaba tem motivos para celebrar
Publicado em 13/09/2025 às 17:14
Fotos: Divulgação/Dose Clássica
Produto tipicamente brasileiro, destaque pela importância histórica, cultural e econômica do país, a cachaça tem um dia só para ela. Neste sábado (13), é comemorado o Dia Nacional da Cachaça, data que marca a importância da primeira bebida destilada da América Latina e um verdadeiro patrimônio nacional do Brasil.
A data remete à Revolta da Cachaça, ocorrida em 1661, quando os produtores se rebelaram contra a proibição da produção e venda da bebida pela Coroa Portuguesa, que buscava beneficiar o vinho europeu.
Revolução que, de certa forma, está presente na história da cachaça Dose Clássica, produzida no Espírito Santo. Tudo começou em 1980 quando o empresário Ralphe Ferreira Júnior, 64 anos, resolveu comprar um alambique de aço inoxidável para produzir a bebida no terreno da família em Santa Cruz, Aracruz, a 30 quilômetros da capital Vitória.
As primeiras tentativas foram marcadas por erros e falta de conhecimento técnico, comuns a quem se aventura em um novo ofício. “Eu nunca tinha feito cachaça, mas tinha vontade de investir na produção. Na primeira tentativa, eu joguei o caldo de cana direto dentro do destilador e do outro lado saiu só vapor, não saiu nada! Aí falaram que eu tinha que colocar serpentina na água primeiro. Saiu um líquido, mas era um líquido que não tinha nada a ver com cachaça, era um líquido sem gosto, um negócio esquisito”, recorda.

Ralphe contou que foi quando uma pessoa que fez o alambique falou que era preciso fermentar o caldo de cana. “Eu pensava que era coisa fácil e simples de fazer, mas vi que dava muito trabalho e exigia muito conhecimento técnico, por isso desisti”, contou o empresário.
Um outro momento crucial foi a consultoria de especialistas que visitaram o terreno onde fica o alambique. Na época, os técnicos foram enfáticos ao dizer que dali não sairia nenhuma cachaça boa e que, por isso, somente prestariam assessoria se fosse para plantio de eucalipto.
“E ainda teve meu pai que falou para eu esquecer esse negócio de fazer cachaça. Lembro dele dizendo para eu comprar a melhor cachaça que tivesse no mundo porque para fazer uma própria daria muito trabalho. Mas como todo bom filho é teimoso, teimei com ele e disse que um dia ainda iria fazer”, relembrou o empresário.
Sonho foi despertado novamente
O alambique ficou parado por 20 anos até que um caseiro apareceu e despertou a veia empreendedora e a persistência de Ralphe. Depois de muita experimentação, a produção artesanal finalmente ganhou vida, mas ainda não agradou.
“Ele me disse que sabia como fazer. Pediu para eu comprar fermento para pão doce. Aí o caldo de cana fermentou e colocamos para destilar. Eu tinha convidado uns amigos para beber minha primeira cachaça. Quando eu cheguei com o garrafão lá no alambique e dei pra eles só ouvia: que coisa horrível, Ralphe! Me derramaram cinco litros de cachaça na cabeça, era tanto álcool que eu estava quase morrendo afogado, não conseguia respirar”, recordou aos risos o empresário.
Ralphe sabia que eram necessárias muitas tentativas para chegar onde queria, por isso não desistiu. A teimosia dele, aliada ao apoio familiar, impulsionou a busca por aprimoramento, resultando em uma cachaça que hoje se destaca, mundialmente, pela qualidade e sabor únicos.
Prêmios internacionais e nacionais
A história da Cachaça Dose Clássica, nascida da persistência e paixão do empresário Ralphe Ferreira Junior, completa duas décadas de uma trajetória singular, marcada por desafios, aprendizado contínuo e a busca incessante pela qualidade.
Das tentativas frustradas de produção floresceu um negócio familiar que oferece uma linha diversificada de 14 tipos de cachaça, mantém a essência artesanal e coleciona uma variedade de produtos premiados, inclusive no Concurso Internacional de Bruxelas, considerado o maior do mundo em premiações de destilados.

“O Concurso Internacional de Bruxelas é o mais badalado que tem no mundo de bebida. Quem consegue uma medalha lá, nem que seja a de prata, é diferenciado porque os critérios de avaliação são muito severos. Tenho orgulho de ter conquistado algumas, inclusive depois de tanta persistência para produzir a Dose Clássica. Espero trazer tantas outras para o Espírito Santo”, comemorou Ralphe.
PRODUÇÃO – Anualmente são produzidos, aproximadamente, 30 mil litros de cachaça. De uma tonelada de cana, o alambique produz cerca de 100 litros da bebida. “Tem gente que tira mais, mas eu foco muito na qualidade e não quantidade de bebida. Com a cachaça matriz, que é a branca, de qualidade você pode fazer outras muito saborosas, que realmente agrada o paladar e não deixa aquela queimadura de álcool na garganta”, explicou Ralphe.
O alambique somente utiliza cana do canavial próprio. A colheita começa em abril e dura quase seis meses, quando a matéria-prima acaba, a produção apenas retorna no ano seguinte, justamente para manter a qualidade do produto.
Texto: Marcelle Altoé