ESPECIAL ELEIÇÕES 2024: “Prefeitura não é lugar de estagiários”, diz Lidiney Gobbi sobre o comando de Marechal Floriano

Publicado em 19/04/2024 às 16:56

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Texto e foto: Fabricio Ribeiro

O ex-prefeito Lidiney Gobbi (PP), de Marechal Floriano, quer voltar ao comando do executivo municipal e é pré-candidato para as eleições de 6 de outubro próximo. Aos 61 anos, casado e pai de três filhos, Lidiney é natural da localidade de Todos os Santos (divisa de Guarapari com Marechal Floriano) e vive no município desde 1985.

Lidiney foi prefeito de 2013 a 2016, e foi derrotado quando tentou a reeleição. Também já foi secretário de Agricultura e de Meio Ambiente, vereador e atuou no governo do ES na Agência de Recursos Hídricos e no Diário Oficial. É servidor efetivo do município e atua no setor de convênios.

Nesta entrevista, Lidiney garante que é o mais experiente entre os demais pré-candidatos, defende mais especialidades médicas na cidade, reativação da ferrovia, criação de guarda municipal patrimonial e de trânsito, maior apoio ao turismo e atração de empresas. Afirma ainda que sua gestão foi mais democrática que a do atual prefeito Cacau Lorenzoni (PSB).  

Montanhas Capixabas – Por que você quer voltar a ser prefeito?

Lidiney Gobbi – Um grupo de pessoas da comunidade – empresários, produtores rurais e amigos – me convidou para poder usar minha experiência no município. Neste convite me disseram que fui um prefeito dinâmico, aberto e participativo.  Como secretário de Agricultura e de Meio Ambiente, no início da década de 2000, integrei a missão brasileira em viagem pelo Mercosul.

E já vinha de experiências de viajar à Brasília, contato com meio empresarial, dezenas de prefeituras pelo Estado e empresas de fora do estado. Tive a sorte e a experiência de passar pelo mandato de prefeito, ser secretário, coordenar campanhas. Com isso quero poder servir mais ao município.

Como está sendo construída essa pré-candidatura?

Hoje estou no Partido Progressista (PP). Esta é a etapa de preparar os filiados, ou seja, montar um time com lideranças que vão estar aptas para disputar as eleições. Conosco, além do PP, estão PL, Agir, DC, PRTB, PSD e PSDB.

Quanto à chapa de vereadores?

Serão doze candidatos em cada um destes sete partidos. O PP, o PL, o Agir, o DC e o PRTB estão completos. Falta completar PSD e PSDB. Como Marechal na próxima legislatura vai ter 11 vereadores, então nós podemos lançar 12 candidatos cada partido.

Já tem nome para vice?

Nosso grupo começou com três pessoas e há dois anos atrás tivemos uma conversa com vereadores. Foi feita uma pesquisa na época e eu vinha liderando as pesquisas entre os pré-candidatos. O vice, deixaríamos o grupo escolher. Agora colocar sete nomes do grupo e escolher um por consenso. Se não acontecer esse consenso a gente faz uma pesquisa para poder definir. Cada nome pode ser de cada partido, principalmente daqueles que já estão completos (PP, PL, Agir, DC e PRTB).

Qual a sua avaliação sobre a atual administração de Cacau Lorenzoni?

Respeito muito a hierarquia. Como funcionário efetivo eu não gosto de me envolver muito em outras áreas da administração. No período que estive como prefeito de 2013 a 2016 rezei muito que não tivesse pessoas para me atrapalhar. Mas, o que eu sinto hoje na atual gestão é pressão, as pessoas têm medo.

Muitos não se filiaram ao nosso grupo porque se sentem coagidos. E isso é uma pena. Andando no interior, a gente vê pessoas com vontade de disputar a eleição, não vêm porque têm medo. E as pessoas não se filiam com a gente porque têm medo. Fico triste saber que isso existe numa administração no mundo de hoje.

Sua administração foi mais democrática que a de Cacau?

Teve mais liberdade. Você vota em quem quiser, apoia quem quiser. Política pública é mão dupla. É ir e voltar. E também fazer para todos, não fazer limitado. Servir a todos. Se hoje o interior tem dinheiro, está produzindo, a cidade está bem. E hoje a arrecadação do município, praticamente 80%, vem do faturamento da agricultura. Então tem que olhar para o interior também.

Além do seu, quais os nomes colocados como pré-candidatos de Marechal Floriano?

Os que foram publicados no jornal (Montanhas Capixabas). Felipe Del Puppo (MDB), Diony Stein (Podemos) e Reginaldo Penha (PT). Então, comigo são quatro. Se vai ter mais ou vai ter menos, a gente não sabe.

Como vê a pré-candidatura de Felipe Del Puppo, que é da situação?

Se ele tivesse a certeza de que o prefeito Cacau Lorenzoni fosse apoiar ele (Felipe), tinha que se filiar ao partido do prefeito. Porque prefeito, governador, presidente da República, quando lançam um candidato, normalmente a pessoa tem que ser fiel a quem está apoiando.

O prefeito pode acabar não apoiando a candidatura do vereador Felipe. Eu defendo jovem na política, mas eu defendo jovem preparado. Eu tenho idade, mas tenho um pensamento jovem. Tenho jovem de 21 anos que pode ser vice. Mas, nosso projeto é pegar uma pessoa jovem e capacitá-la.

Então o Felipe não está preparado?

Julgar a pessoa do Felipe eu não vou porque não tive muito convívio com ele. Na minha visão, ele tinha que ter passado pelo menos pelo cargo de secretário. Uma prefeitura é responsável pela educação, saúde, agricultura e outras áreas

Esse mesmo critério vale para o Diony?

É um trabalhador, jovem, está de frente do comércio dele. Ele é vereador igual o Felipe. Mas gerenciar uma empresa e uma prefeitura tem diferença. Numa empresa, você faz o que quer com seu dinheiro. Mas, com a prefeitura você tem que obedecer critérios. Ir à Brasília, captar dinheiro. A gente tem a noção que no futuro vai dar problema de arrecadação. Então, se a gente não tiver preparo, o município fica em risco. O comando da prefeitura não é lugar de botar uma pessoa para ser estagiária.

E a candidatura de Reginaldo Penha?

É um produtor. Quando estive prefeito, trabalhou comigo como técnico agropecuário. Trabalha na área de licenciamento. Vejo também que para bater numa prefeitura, a pessoa tem que ter passado por uma experiência. É uma pessoa bacana, tem condições de fazer o trabalho dele, mas para gerir uma prefeitura, precisa ter um preparo. Entrar para Prefeito é muito sério e a pessoa não pode entrar para aprender a ser prefeito.

Então seu nome é o que tem mais experiência entre os colocados?

Pelos trabalhos que vim fazendo, pelos processos que já passei, sim. Eu não sei tudo, mas eu me acho preparado.

Como você vê a economia de Marechal Floriano?

É voltada para a área agrícola. A receita do município hoje vem do café, do frango, folhosas, legumes. Mais de 80% da economia vem do agronegócio. E vêm os repasses de FPM (Fundo de Participação do Município). 

E o turismo?

Temos potencial por estarmos entre Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante. O turismo hoje em Marechal está funcionando, mas não tem apoio. Existem dezenas de pousadas, como as do vale de Santa Maria e Araguaia, mas as estradas para chegar nelas não estão legais. Tem hotel no centro da cidade, mas 80% das pousadas estão no interior. E se você não oferecer acessibilidade, atrapalha.

Estamos a 46 quilômetros da capital, a 60 quilômetros de Guarapari, que agora está ligando por estrada asfaltada via Todos os Santos. Um projeto da década de 1990. Isso vai fortalecer muito a nossa região. Vamos montar um plano para alavancar o turismo, aproveitando a proximidade com a Grande Vitória e o fluxo de carros na BR-262. A ideia é não só investir na área de eventos como na área de infraestrutura para trazer empresas ligadas ao setor. Podemos crescer 80% mais no turismo e gerar emprego e renda.

Marechal tem tido crescimento urbano e populacional. Como você avalia?

Marechal está crescendo, com mais prédios. O produtor rural está aí investindo, o crescimento é fantástico na questão das obras. A Secretaria de Planejamento tem de estar focada no planejamento da cidade. Precisamos fazer um planejamento macro para as coisas grandes acontecerem, seja uma rede de hotel, restaurantes bons. 

Se Domingos Martins tem, por que Marechal não? Precisamos trazer empresas, gerar emprego e renda, de esvaziar a prefeitura para que ela possa investir mais. Hoje quem tem que gerar emprego e renda são as empresas. A Prefeitura tem que fazer gestão, gerar atrativos.

Esse crescimento pode trazer desafios? A questão do trânsito, por exemplo…

É preciso estudar a acessibilidade da sede. Trazer a sociedade para debater, porque hoje foi criada a 3ª ponte, fazer entrada e saída em consenso com comerciantes e moradores. Criar mais vagas para estacionamento. Estando na próxima gestão, faremos uma coisa participativa.

Alguma atenção especial para a segurança pública?

Vamos criar uma Guarda Municipal ligada a patrimônio e trânsito para poder dar suporte à Polícia Militar, que já vem fazendo um trabalho muito bom. E já temos um projeto em Marechal de câmeras (de videomonitoramento) para poder ajudar na segurança e também no trânsito.

Quanto ao o parcelamento irregular do solo, com vendas de terrenos que não geram escritura?

Antes, para gerar escritura na área rural em Marechal Floriano e Domingos Martins, o terreno tinha que ter no mínimo 30 mil metros quadrados. Agora caiu para 20 mil. Já melhorou. Vamos começar a fazer regularização fundiária nas áreas urbanas e rurais.

Inclusive, na comunidade de Santa Rita, eu tive o prazer, antes de sair (da prefeitura), de deixar os decretos prontos para todo mundo ter sua escritura. Se a prefeitura deu autorização para fazer condomínio, loteamento, que também a pessoa faça a regularização fundiária. Você passa a ter um melhor controle, vem a iluminação pública. Com tudo organizado, a cidade fica mais bonita e o turismo agradece.

Há desmatamento em Marechal Floriano?  

Até parabenizo o povo de Marechal Floriano porque tem pouco desmatamento. Existe às vezes a questão de loteamento que vão fazendo. Se fizer tudo legalizado, é questão de licença. Não vejo assim uma depredação em nosso município, graças a Deus.

Isso vale para a conservação das águas?

Com certeza. Sobre essa questão é preciso fazer a drenagem nas estradas. Não vale nada você colocar saibro, cascalho, gasta um dinheirão e em uma chuva vai tudo para os córregos e rios, gerando assoreamento. Drenagem a gente pretende trabalhar, já falei com agricultura, meio ambiente e turismo, e você fazer pavimentação ou Revsol (rejeito de siderúrgica) com drenagem. Se fizer isso vai reduzir 90% do assoreamento de rios e nascentes.

O Revsol é originado da escória de aciaria da planta de Tubarão. Não é contaminante para a água?

A Arcelor (empresa de onde sai a escória) capacita as prefeituras para usar o produto. Nós fizemos um curso e você tem que seguir critérios. Não se bota o produto sozinho. Você pega a escória e mistura com argila. Aí você compacta. Compactando, não tem contaminação. A não ser que você jogue o produto puro sobre a estrada, aí não pode.

O que precisa ser feito na saúde pública?

Mais especialidades nas unidades de saúde. Através do consórcio intermunicipal. Tem consórcio hoje com 16 municípios. Na minha época de prefeito, tinha pediatria neste formato. A gente colocava a pediatria no PSF (Programa de Saúde da Família). Assim não precisa o produtor rural vir à sede. Santa Maria, Araguaia, Victor Hugo, Bom Jesus, tem unidade de saúde. Então, um dia por semana as pediatras atendiam lá. E se precisar de emergência, vai ter pediatra no centro da cidade. Nós também precisamos de cardiologista, ginecologista. Isso também pode ser feito via consórcio.

Atravessando o centro de Marechal, a ferrovia há anos está parada. O que vai acontecer? 

Se a gente puder juntar os municípios para retornar com a ferrovia, como já lutamos lá atrás, eu vou lutar. Ter um transporte de Cachoeiro à Vitória, de Marechal à Vitória. Mas vou lutar para tentar pelo menos de Marechal a Araguaia uma concessão junto à FCA (Ferrovia Centro Atlântica) e à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para funcionar sábado e domingo com passeio turístico. Seria uma atração turística. Ou a Prefeitura investe ou que faça uma PPP (Parceria público privada).

Qual sua expectativa em relação à duplicação da BR-262 no trecho serrano?

Na época em que eu estava prefeito, foi quando começou a fazer a duplicação (a terraplanagem entre Marechal e o trevo de Victor Hugo). Aí não teve interesse das empresas (de assumir a concessão), devido ao baixo fluxo. Mas, eu acredito que saia. Já está comprometida essa BR. Já era para ter feito a licitação para as obras. A gente vai lutar para poder fazer. Porque melhorando a BR, vai melhorar a nossa região. A questão do turismo, a questão de empresas investirem aqui.

Se duplica a BR, a região será de certa forma incorporada à Grande Vitória?

Com certeza. Vai crescer muito. Mas, Vitória não comporta mais o crescimento portuário. E a duplicação da BR-262 seria para efeito regional.

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