Balão ‘espião’ da China pode provocar uma nova Guerra Fria

Publicado em 07/02/2023 às 17:00

Compartilhe

4765972

Foto: Freepik

Especialistas acreditam que relações entre os dois países ficarão ainda mais estremecidos e poderá afetar o comércio e a segurança mundial

A relação entre Estados Unidos e China, que já não era das melhores, pode piorar nas próximas semanas após os norte-americanos terem acusado os chineses de espionagem. Um balão chinês foi encontrado sobrevoando uma área militar sensível para o governo americano. 

O caso provocou uma reação do governo de Joe Biden, que cancelou a viagem do secretário de Estado do país, Antony Blinken, a Pequim . O governo chinês questiona as ações dos americanos, que abateram um dos balões investigados.

Especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que a ação chinesa pode prejudicar um estreitamento das relações entre os dois países. Embora seja uma tentativa velada, Biden estudava formas de estreitar relações com a China após a viagem da ex-presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, a Taiwan, que vive em guerra com os chineses.

Na época, o governo de Xi Jinping entendeu a visita como ajuda dos Estados Unidos ao seu adversário e passou a sinalizar um apoio à Rússia, principal ‘inimigo’ dos americanos, na Guerra da Ucrânia.

“São dois países de pretensões hegemônicas. Ambos tentarão apresentar seus lados, mas acredito que essa suspeita dos americanos pode estremecer ainda mais a relação entre eles”, afirma Leandro Consentino, professor de Relações Internacionais do Insper.

“Penso ser muito mais grave um satélite em órbita do que um balão. O problema é que chegamos a nível de atrito entre os dois países que qualquer instrumento não muito usual acaba incomodando muito”, completa José Niemayer, coordenador de Relações Internacionais do Ibmec-RJ.

Enquanto os americanos acusam os chineses de espionagem, o governo de Xi Jinping tenta classificar a Casa Branca como mentirosa. A China negou tentativa de espionagem e disse que o balão é meteorológico.

Ainda segundo os chineses, os veículos mudaram sua rota e por isso invadiu o espaço aéreo dos Estados Unidos. Porém, o governo asiático não avisou as autoridades norte-americanas. Um dos balões foi encontrado sobrevoando uma área militar norte-americana, onde há um forte arsenal bélico.

Não bastasse a polêmica acusação, o mundo poderá sofrer com retrocesso de 34 anos. Se confirmada as tentativas de espionagem da China, os Estados Unidos poderão responder à altura, provocando a retomada da Guerra Fria.

“Os Estados Unidos tratam os argumentos da China como fracos. Os americanos chegaram a abater um dos balões e deve começar as investigações. Se confirmado, podemos ter uma espécie de Guerra Fria, guardadas suas devidas proporções”, explica Consentino.

“Enquanto os americanos poderão ajudar Taiwan a manter a independência em relação à China, Xi Jinping poderá aumentar seu apoio aos russo contra a Otan. Outra opção do Exército chinês é entrar de vez na Guerra da Ucrânia junto a tropa de [Vladimir] Putin. Os dois vão guerrear, mas sem se enfrentarem diretamente”, completa.

Para Niemayer, a ideia ainda é distante, mas não pode ser descartada por completo. Segundo o especialista, as disputadas estão longe de ser ideológicas, mas sim pela busca do poder.  

“Eu tenho impressão de que a gente não possa considerar uma nova guerra fria, porque temos mais de dois pontos de poder buscando seu poderio”, afirma.

“Temos Estados Unidos, China, Rússia e países Europeus, que estão observando de longe. A questão não é tanto ideológica, a questão é mais por posição de potência”, diz o professor.

Impacto para o mundo

Embora muito distante, a possibilidade da retomada da Guerra Fria não deve causar apenas impactos aos norte-americanos e chineses, mas poderá provocar um desequilíbrio em escala mundial. Diversos países dependem comercialmente e financeiramente dos dois países e, claro, ambos cobrarão apoios de outras nações.

“Claro que qualquer relação entre EUA e China impacta o mundo de forma geral. Isso vai impactar em investimentos de outros países nos chineses e americanos, impacta na dívida dos países e, principalmente, na macroeconomia mundial”, explica Niemayer.

Para o Brasil, o impacto deve ser ainda maior. O governo brasileiro tem relações estreitas com os dois países.

Enquanto os Estados Unidos são um forte aliado político, a China é a principal parceira comercial do Brasil. Os especialistas alertam que a maior dificuldade para o Palácio do Planalto será equilibrar a disputa entre as duas potências.

“O Brasil pode ser afetado a medida que terá que equilibrar seus interesses com as duas potências. OS EUA eram o principal parceiro internacional, depois passou a ser a China. O Brasil não pode prescindir na relação entre os dois parceiros. O grande desafio é se equilibrar entre os dois laços”, afirma Leandro Consentino.

Nesta semana, Lula irá aos Estados Unidos para se reunir com o presidente Joe Biden. No encontro, ambos devem discutir as suspeitas de espionagem chinesa em território americano, além de outros assuntos de interesse entre os dois países.

O presidente brasileiro ainda tem uma visita agendada ao presidente chinês, Xi Jinping, em março. Além do sobrevoo dos balões nos EUA, Lula deverá cobrar ações da China para pôr fim a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Fonte: Portal iG

Veja também

hospital-de-domingos-martins-768x432-2-768x432

Hospital Santa Casa de Domingos Martins suspende temporariamente atendimento normal após alta demanda por síndrome respiratória

capa

Trânsito parado e falta de orientação geram queixas durante obras em Araguaya

54499653680_bc017697a3_o

Vale a pena revisar IOF para evitar especulações, diz Haddad

capa

Carro pega fogo em frente ao Jardim de Infância em Marechal Floriano

capa 23

Domingos Martins recebe evento Movimento de Rua para celebrar arte urbana e periférica

WhatsApp-Image-2025-05-22-at-17.24.28

Espírito Santo inicia colheita da safra 2025 de café arábica

Imagem-do-WhatsApp-de-2025-04-10-as-16.54.22_2693d46b-768x433-2-768x433-2-768x433

Feriado começa com sol, mas frente fria muda o tempo no ES

WhatsApp Image 2025-05-22 at 14.22.48

Reunião com presidente da COP30 discute agenda dos Estados na Conferência do Clima