Morador de Domingos Martins é o 1º capixaba a passar por novo tratamento contra o câncer

Publicado em 07/02/2023 às 08:48

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Texto: Julio Huber / Fotos: Divulgação

Um tratamento que promete ser revolucionário para pacientes com câncer, chamado CAR-T Cell, salvou a vida de um lutador e professor de jiu-jítsu de Domingos Martins. Gregory Machado, 37 anos, descobriu em fevereiro de 2020 que estava com linfoma não-Hodgkin – um tipo de câncer que ataca as defesas do corpo. Ele teve os primeiros sintomas em setembro de 2019.

Devido ao seu histórico de saúde e por praticar atividades físicas constantemente, os médicos não acreditavam que ele estava doente, e desconfiavam que se tratava de uma infecção ou outra enfermidade parecida. Diante da insistência de Gregory, o câncer foi diagnosticado.

Gregory passou três meses em tratamento no hospital da USP, e agora está de volta a Domingos Martins

A partir daí, foi uma maratona de tratamentos. Gregory iniciou o tratamento com quimioterapia. Foram realizados todos os protocolos disponíveis. O início foi com o R-CHOP e houve remissão da doença, mas com oito meses, o câncer voltou. Depois foram mais três protocolos e nenhum deles funcionou. Não houve remissão da doença, e por isso não foi possível tentar sequer o transplante de medula. Assim, a única chance passou a ser o CAR-T Cell.

NOVO TRATAMENTO – O médico hematologista Douglas Covre Stocco, responsável por inserir Gregory ao teste desse novo tratamento, contou que o paciente preencheu os critérios para entrar em um estudo brasileiro. “Esse estudo é da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. É onde eu fiz a minha residência. Então eu tinha muitos contatos lá. Aí, eu passei o caso do Gregory, que foi avaliado e aceito”, disse o médico.  

O médico Douglas Covre Stocco indicou Gregory para realizar o estudo com a nova técnica contra o câncer

Ele foi o primeiro capixaba e o sétimo brasileiro submetido ao novo tratamento. O Dr. Douglas Stocco contou que Gregory é refratário (resistente) à quimioterapia, já não estava respondendo mais aos tratamentos e a única opção disponível até então era o cuidado paliativo. A médica Camila Derminio, da USP, auxiliou durante todo o tempo em que ele estava em São Paulo.

Durante o tratamento, Gregory perdeu um pouco o movimento das mãos e também estava com dificuldade em se locomover. “Com o tempo foi melhorando bastante a locomoção e fiz muitos exercícios com as mãos, como escrever e desenhar, para usar os dedos. Nas pernas ainda ficou um pouco de sequelas, porque também fiquei muito tempo deitado, mas tenho tentado viver o mais normal possível”, relatou o lutador.

COMO É O TRATAMENTO – O médico Douglas Covre Stocco contou que o corpo humano possui células responsáveis por combater bactérias e outras células cancerígenas. São elas que não deixam o câncer surgir a qualquer momento e combatem qualquer microrganismo celular. Essas células defensoras são chamadas linfócitos T.

“Esse linfócito é colhido do paciente através de uma máquina de aférese e ele é levado para o laboratório onde vai ser ensinado a combater o câncer. Ou seja, é injetado um material genético novo que vai ser incorporado ao material genético daquela célula. Esse material genético vai ser incorporado dentro do DNA e ele vai ensinar aquela célula expressar um receptor. Desta forma, quando a célula voltar para o organismo do paciente, ela vai expressar um receptor que vai reconhecer diretamente o câncer e vai combatê-lo”, explicou.

Essa é a terapia CAR-T Cell, pela qual o Greg foi submetido. “Ele já tinha a doença em estágio muito avançado, então ele tinha praticamente todas as cadeias de linfonodos do corpo acometidas e também já tinha a doença em estruturas extranodais, ou seja, fora dos linfonodos, então ele já tinha uma doença óssea, por exemplo. Tudo isso torna um tratamento mais difícil e também aumenta os efeitos colaterais”, destacou o profissional.

TRATAMENTO EM SÃO PAULO – A previsão inicial era de que seriam dois meses de tratamento: um mês internado e um mês de ambulatório. Entretanto, Gregory teve várias complicações, como pneumonia, resposta inflamatória sistêmica, neurotoxicidade e reativação de citomegalovírus (um vírus da família do vírus Herpes, que é capaz de causar uma infecção no corpo do paciente). Devido a isso, ele ficou alguns dias na UTI e depois o tratamento se prolongou por mais um mês. Ao todo, foram quase três meses em Ribeirão Preto.

Já faz cerca de quatro meses que foi feita a infusão do CAR-T Cell. O lutador de jiu-jítsu está em casa desde o final de novembro, mas terá um acompanhamento por cerca de sete anos. “Devemos ter fé e acreditar em nossos sonhos, porque isso é grandioso e nos dá força para lutar, até por coisas que muita gente não acredita que teria como lutar. Mesmo recebendo um não, devemos continuar, ter fé e acreditar em nossos sonhos”, disse Gregory.

Custo do tratamento pode chegar a R$ 3 milhões

Por ser uma novidade na medicina, Gregory foi inserido em um teste no Brasil dessa nova técnica. Ele foi o primeiro capixaba a receber esse tratamento, e o sétimo no país. O médico hematologista Douglas Covre Stocco disse que esse tratamento é desenvolvido com um custo bem mais baixo na faculdade de medicina de Ribeirão Preto, pela USP, mas que o custo do tratamento particular pode chegar a R$ 3 milhões.

“Na USP é feito a título de pesquisa, então o paciente não paga nada. Ele participa da pesquisa, e a estrutura para o desenvolvimento é do SUS (Sistema Único de Saúde), mas esse tratamento ainda não está disponível no sistema público de saúde. No Brasil, esse tratamento está disponível a partir da pesquisa ou a partir das duas terapias aprovadas. Essas terapias, fora da universidade, têm um custo. Para quem quiser a partir de um convênio, por exemplo, o valor é de quase R$ 2 milhões só a terapia, mas ainda tem internação, outros remédios, possibilidade de internação de UTI, ou seja, o final deste tratamento pode chegar a R$ 3 milhões”, enfatizou.

O médico explicou que existem pessoas que respondem e as que não respondem ao tratamento. Entretanto, o profissional afirmou que maioria responde muito bem, apesar de existir a chance de o câncer retornar.

Ainda segundo o hematologista, atualmente, no Brasil, o CAR-T Cell é usado basicamente para dois tipos de câncer: o linfoma difuso de grandes células B e leucemia linfoblástica aguda. Nos Estados Unidos – e também está chegando ao Brasil – há tratamentos para outros tipos de linfoma, que já estão sendo tratados com essa terapia, como o linfoma folicular e o linfoma do manto. “Estão sendo desenvolvidas técnicas do CAR-T Cell para tratar câncer sólido também. Mas no Brasil, por enquanto, são tratados só esses dois tipos de câncer”, informou.

Gregory já retomou suas atividades, com algumas restrições, mas se considera um vitorioso. “Já estou dando aulas, mas ainda não voltei a treinar. Nos próximos dias irei retirar o cateter e depois devo voltar a treinar e normalizar mais a minha vida”, informou o professor de jiu-jítsu.

O médico Douglas Covre Stocco é hematologista e possui graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense e especialização em Clínica Médica pelo Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, vinculado à Universidade Federal do Espírito Santo, e Hematologia e Hemoterapia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e Hemocentro de Ribeirão Preto, vinculados à Universidade de São Paulo.

O hematologista Douglas Covre Stocco destacou que o tratamento CAR-T Cell pode chegar a R$ 3 milhões na rede particular

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